Maio 23 2008

Por vezes as leituras são tantas e o tempo é tão pouco que muitos livros acabam por não ser lidos ou, numa melhor hipótese, vêm a sua leitura adiada. Foi mais ou menos isto o que aconteceu com O Círculo do Medo, o quarto livro da saga das Pedras Mágicas, de Sandra Carvalho.

Confesso que estava curioso não só porque este livro faz parte de uma série que me agrada bastante, mas também porque foram muitos os elogios que recebeu, a par das críticas ferozes. Agora que o terminei, posso afirmar que não me desiludiu, talvez porque as minhas expectativas não fossem elevadas.
Se com os dois primeiros livros a autora estabeleceu o seu espaço na fantasia portuguesa, criando uma legião de fãs, e se com o terceiro apenas conseguiu desiludir alguns deles, com O Círculo do Medo Sandra Carvalho continua longe da narrativa áurea com que se destacou mas consegue ultrapassar alguns pontos menos bons do volume anterior.
Dado que o meio e as personagens que lhe dão vida não são novas, rapidamente o leitor se embrenha na narrativa. Já não existe a confusão dos nomes, a incompreensão das situações ou a surpresa com determinadas atitudes... ao fim e ao cabo, talvez a história tenha caído numa rotina que, facilitando a leitura, a torna menos viva e pouca vivacidade proporciona às personagens.
Não é fácil descrever o percurso feito por Edwina, a protagonista desta história. Diria até que a heroína perde-se em situações pouco importantes, caminhando sem um real objectivo. Se por um lado luta contra os mestres da Arte Obscura, por outro tem de enfrentar as reviravoltas da vida familiar e conjugal, tão variadas que ocupam grande parte das páginas deste livro.
Ainda assim, a Guardiã da Lágrima do Sol chega a lutar contra Aesa, Rainha do povo Vândalo e feiticeira poderosa, embora a ausência de um confronto face a face seja um pouco desapontante. Para além disto, a relação com Edwin, Guardião da Lágrima da Lua, mostra-se cada vez mais confusa, apesar de constituir um ponto fulcral e até interessante na narrativa.
A magia reaparece duma forma um tanto ou quanto artificial, já que rapidamente se esgota e, quando necessária, nem sempre está presente. Exceptuando os confrontos com os feiticeiros da Arte Obscura e um ou outro feitiço mais artístico, a magia praticamente restringe-se às visões.
Apesar de tudo isto, o livro vale a pena pela capacidade descritiva e estilística da autora, bem como pelo perigoso jogo de poderes e interesses que enriquecem a obra. Quanto ao desfecho deste livro, esperava algo mais concreto e contundente mas, apesar de tudo, não posso negar que gostei bastante do episódio final que, longe de um desenlace satisfatório, marca o início de uma nova etapa da narrativa.
Muito fica por explicar e, como tal, estou disposto a continuar a ler esta saga que, acredito, ainda tem muito para oferecer a todos os seus leitores.

 

 O Círculo do Medo de Sandra Carvalho

 Bom fim-de-semana!

Publicado por Fábio J. às 23:03

Maio 18 2008
Já muitas vezes aqui afirmei que adoro embarcar numa boa história de fantasia e navegar através da sua narrativa, maravilhando-me com acontecimentos extraordinários e irreais, capazes de desafiar a minha imaginação.
Por isso mesmo, quando o convite me foi feito não hesitei. É com muito gosto que anuncio a minha participação no blog Correio do Fantástico, passando a ser mais um carteiro deste espaço que tem vindo a desenvolver um trabalho distinto na promoção da literatura fantástica.
O blog Os Livros continuará a ser o meu espaço privilegiado para opinar, mas terei no Correio do Fantástico a oportunidade de desenvolver alguns temas que há muito desejo discutir.
Assim sendo, fico à espera da vossa visita a este espaço, no qual podem já estabelecer contacto com o trabalho dos meus dois colegas, Roberto Mendes e Pedro Ventura.
Publicado por Fábio J. às 23:30
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Maio 16 2008
A Assembleia da República aprovou hoje o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo Ortográfico, o que significa que falta apenas a assinatura do Presidente da República para terminar a ratificação do acordo. Feita a promulgação presidencial os portugueses terão seis anos para se adaptarem às mudanças, embora, neste momento, o acordo ortográfico já esteja em vigor, em termos internacionais.
Confesso que me senti deveras desiludido, desapontado e até vítima com a decisão do parlamente, muito embora dificilmente a decisão final pudesse ter sido outra.
Despropositadamente, vi hoje Vasco Pulido Valente, na sua crónica semanal na TVI, classificar este acordo como estúpido e comparar o português ao inglês, língua que não sofreu nenhuma alteração ortográfica substancial desde o séc. XVI e que, por isso, apresenta hoje poucas diferenças ortográficas entre as variantes e é, saiba-se lá porquê, a língua franca mundial.
Seja como for, para o bem ou para o mal a decisão está tomada. Apesar dos esforços e da argumentação de alguns, neste momento milhões de cidadãos estão prestes a presenciar uma mudança ortografia na sua língua. É grave? Contrariamente ao que possam esperar, penso que não. A grande maioria nem dará pela mudança! E, pelo que já percebi, dentre os restantes muitos não se interessam com as consequências materiais e humanas deste documento.
Seis anos... Boa sorte para todos!

 

Publicado por Fábio J. às 22:55

Maio 13 2008

A dois dias do debate na Assembleia da República, Vasco Graça Moura lança o livro O acordo ortográfico - a perspectiva do desastre, obra que reúne as principais intervenções e recentes a propósito do acordo ortográfico de 1991, incluindo a intervenção realizada na conferência internacional promovida pela Assembleia da República no passado dia 7 de Abril. “Trata-se de um contributo que faço na tripla qualidade de escritor, de cidadão e de político”, justifica Vasco Graça Moura.

Vasco Graça Moura defende ainda que “a aplicação do acordo não levará apenas ao caos no ensino nos oito países. Levará a que a língua portuguesa se cubra de ridículo no plano internacional. (...) Mas sem se abordar a questão dos interesses políticos, económicos ou geo-estratégicos em jogo, qualquer leigo verifica que o acordo não traz qualquer solução inteligente. Não traz qualquer utilidade ou mais-valia. Enferma de muitos vícios e, a entrar em vigor, será altamente pernicioso nos mais variados planos”.

Mas se uns continuam fies à actual ortográfica, muitos outros já se renderam às novas regras. Depois da Texto Editora publicar o Novo Dicionário da Língua Portuguesa - Conforme Acordo Ortográfico, bem como o guia Atual, foi a vez da Porto Editora publicar os seus dicionários: o Dicionário Editora da Língua Portuguesa 2009 - Acordo Ortográfico, que apresenta simultaneamente as duas ortográfica, bem como o Guia Prático do Acordo Ortográfico.

E se estas publicações podem ser classificadas como precipitadas, o mesmo não se pode dizer do exemplo da Priberam, responsável pela ferramenta linguística Flip, usada, por exemplo, na verificação ortográfica aqui do blog Os Livros. Esta empresa apresentou hoje a sua estratégia para se adaptar às mudanças ortográficas, já que no Brasil, onde também opera, o Acordo é já um documento consumado, com entrada em vigor no início de 2010. De notar que a Priberam pretende manter a comercialização de diferentes pacotes para Portugal e para o Brasil, estando também prevista a possibilidade de se optar pela validação de uma dupla grafia. Complicado? É a isto que o acordo obriga...

Por último, a derradeira tentativa para impedir a ratificação do Acordo Ortográfico, em Portugal, é o Manifesto em Defesa da Língua Portuguesa. A petição online conta com algumas personalidades de relevância do mundo da cultura e da política como primeiros signatários. Neste momento, a petição conta com mais de 30 mil signatários mas as primeiras 17300 assinaturas já foram entregues ao Presidente da Assembleia da República. Ainda não assinei, mas pretendo faze-lo brevemente, embora não acredite na sua utilidade.

Publicado por Fábio J. às 23:05

Maio 09 2008
A poucas semanas do Verão, começa-se agora a projectar muitas das actividades e eventos culturais que ocorrem ao ar livre e que já caracterizam a estação. As feiras do livro são um bom exemplo desses eventos, levando as pessoas até à rua para passearem entre os livros expostos e autores convidados mas, principalmente, para comprar aquelas obras que guardamos para ler nas férias ou são lançadas nesta época tão representativa.
A verdade é que, tal como para todos os outros bens que usamos diariamente, cada livro tem um valor, não só o cultural (geralmente indubitável), mas também económico. As feiras do livro representam, logo neste campo, uma oportunidade para aqueles que pretendem adquirir novos títulos em promoções, descontos, ofertas... Mas, constituíram as feiras do livro verdadeiras oportunidades de compra, no actual mercado editorial português e internacional, dominado tanto pela crescente popularização do livro como pelo marketing?
A maioria dos visitantes deste blog considera que sim. É um facto que muitas editoras, juntamente com as câmaras municipais a que se associam, conseguem proporcionar aos visitantes destas feiras alguns preços de venda bastante interessantes ou, em alguns casos, impressionantes. No entanto, regra geral, não consigo descortinar uma real vantagem económica nas feiras do livro.
Criticados por muitos, adorados por outros, os descontos das livrarias virtuais constituem nos dias de hoje uma real e constante oportunidade para quem tem por habito comprar novos títulos. Adaptando-se a esta realidade, também as livrariam convencionais há muito adoptaram o já tradicional (e quase obrigatório) desconto de 10% sobre o preço de editor.
Relembrando as comuns campanhas que as livrarias virtuais fazem ao longo do ano (seja no Natal, no Dia Mundial do Livro, no Dia do Pai ou da Mãe, da Mulher, etc, etc) e a cada vez maior utilização da Internet, bem como o aumento das cadeias de livrarias por todo o país fica claro que, para quem quer comprar livros a preços mais baixos, as opções são muitas.
Não pretendo, com isto, desvalorizar as feiras do livro enquanto evento cultural, local de encontro entre os escritores e os leitores, os editores e o publico, os livros e os seus admiradores. Quanto a isso são, certamente, muito importantes. Mas a realidade é que, no que toca aos preços, as feiras dos livros tem cada vez menos de novo para oferecer.
Curiosamente, tive hoje a oportunidade de vir a participar numa feira do livro da minha zona, como vendedor. Ainda não decidi, mas certamente seria interessante passar horas entre livros e, mais interessante ainda, estar em contacto directo com os visitantes, nos bastidores, tentando perceber se, afinal, as feiras do livro ainda são sinónimo de verdadeiras oportunidades de compra.
    

Feira do livro é sinónimo de boas oportunidades de compra?
 

73.68% Sim
7.01% Não
14.03% Talvez noutros tempos
5.26% Não sei

 

Total: 114 respostas

 

Boas Leituras e boas compras!

 

Publicado por Fábio J. às 23:57
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O autor deste blog não respeita o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa