Dentre os livros que recebi neste Natal estão os que constituem a Trilogia das Jóias Negras, de Anne Bishop. Já há muito me interessavam pois, embora inicialmente as premissas não me tivessem aliciado, as opiniões favoráveis e o lançamento de novas histórias passadas no mesmo universo aguçaram-me a curiosidade.
Não me é fácil resumir Filha do Sangue, sobretudo porque demorei bastante a perceber o seu contexto e a entender as personagens, as raças, os locais, o sobrenatural… Para ser preciso, só depois de ler umas 100 páginas consegui encontrar um fio condutor que tornasse a leitura aprazível. Mas mesmo depois de um quarto do livro lido, continuei a achar a história muito pouco fundamentada.
Trata-se de uma história de fantasia negra, com estranhas raças e lugares. O mote da acção é o aparecimento de Jaenelle, uma poderosa mas jovem feiticeira capaz de abalar toda a sociedade. Nesta, o poder está nas mãos das mulheres que, tecendo as suas teias, são capazes de dominar tudo e todos… ou quase. Com os seus extraordinários poderes Jaenelle viaja por várias dimensões, acabando por encontrar alguns daqueles que há muito a esperavam, dentre os quais destaco Daemon, um cobiçado príncipe escravo, e Saetan, Senhor do Inferno, duas personagem bem construídas e que muito contribuíram para a dinâmica da obra.
Quando comecei a perceber um pouco da história não pude deixar de a achar interessante, mas o estilo da autora não me convenceu. Fiquei com a sensação de que a contínuo mistério e a tentativa de surpreender o leitor apenas contribuíram para a confusão daquela. Era tanta informação dada pela metade que, acabado o livro, sinto-me frustrado por não o ter conseguido apreciar por inteiro, por não o ter percebido. É verdade que a fantasia é aqui explorada com grande criatividade, resultando numa história diferente de tudo o que já li, mas tenho dúvidas quanto à sua exposição, pois há pouca clareza.
A história apresenta, também, um tom muito sensual, não fosse a sociedade descrita dependente do prazer carnal. Mas se numas vezes esse tom propicia uma atmosfera mágica, noutras demonstra uma tendência um tanto ou quanto mórbida. Não sou falso puritano; a autora é que exagera sem necessidade.
Talvez a história pudesse ser contada em metade das páginas. Talvez fossem precisas outras 400 para desenvolver e esclarecer a história. Assim é que não está bem!
Mas nem tudo é mau! Como disse, trata-se de uma história criativa, com uma acção bastante original e com muitas surpresas. Existe uma dinâmica capaz de entusiasmar e estimular a leitura da página seguinte. Algumas personagens escapam ao estereótipo e à vulgaridade e revelam-se interessantíssimas, com personalidades e valores admiráveis, seja pela positiva ou não.
Este volume acaba em aberto, por isso pretendo ler o próximo em breve. Agora que alguns conceitos já foram interiorizados, é provável que a leitura seja mais agradável.
Filha do Sangue de Anne Bishop
Boas Leituras!