Agosto 19 2009
Michael Ondaatje é um escritor canadiano, conhecido, sobretudo, pela sua obra O Doente Inglês, distinguida com o Prémio Booker, em 1992, e cuja adaptação cinematográfica valeu 9 Óscares. Depois de meses na estante, este livro passou para a cabeceira, proporcionando-me uma leitura peculiar.
Não será correcto apontar um local, uma data ou um narrador para esta história, já que estes permutam subtilmente entre si. Contudo, o presente da narrativa, que une personagens e histórias, passa-se no final da Segunda Guerra Mundial, num mosteiro em ruínas na Toscana, Itália. Aí, uma jovem enfermeira, Hana, cuida de um enigmático homem, queimado e sem nome, contador de inúmeras façanhas e episódios. A eles juntam-se um homem de mãos ligadas, Caravaggio, e um sapador sikh, Kip. Quatro vidas unidas por uma guerra que não lhes pertence, que os encurralou e que os fez abandonar a guerra que cada um trava no seu íntimo, contra o passado ou contra o futuro, sempre contra si mesmos.
A convivência leva estas quatro personagens a partilharem memórias e segredos, reconstruindo as suas identidades há muito perdidas e, em última análise, a julgarem-se, gerando amor, ciúme e ódio. Desse modo, conseguem reflectir sobre quem são e o que fazem, quais as suas motivações e os seus medos. Em suma, encontram-se.
Trata-se de uma história ora trágica, ora comovente. O contraste entre o passado e o presente das personagens, associado à indefinição que é o futuro, fomenta a reflexão sobre a própria vida. Esse contraste é possível graças aos diversos fragmentos que compõem esta obra e às histórias secundárias que a complementam. Talvez por isso, esta não seja uma leitura simples. Não existe coesão externa e é muito fácil perdermo-nos no emaranhado de acontecimentos e episódios.
O narrador é uma figura inconstante, sendo quer mero observador, quer personagem principal, narrando na terceira ou na primeira pessoa. Por mais do que uma vez, ele pergunta-se (ou pergunta-nos) quem falava nos últimos parágrafos, de quem era a memória ou a confissão da página anterior… Um exercício pelo qual, reconheço, me deixei fascinar.
É-me muito difícil avaliar este livro. Parece-me não haver forma de focar os aspectos que me fizeram apreciar esta obra, talvez porque não sejam concretos, talvez porque a viagem psicológica das personagens seja também uma viagem íntima com o leitor. A verdade é que me senti muito bem enquanto o li, e guardo já uma certa saudade…
Em suma, este livro, mais do que outros, prova que ler é uma experiência, com tudo o que isso acarreta. Requer uma leitura atenta, mas é possível faze-lo e obter imenso prazer de cada frase e de cada detalhe do enredo.
Apetecia-me escrever muito mais e, no entanto, talvez não tenha escrito algo muito construtivo. A culpa é (também) da singularidade livro.
O Doente Inglês de Michael Ondaatje

Ana Luísa Faria, Dom Quixote (edição Biblioteca Sábado, 2008)

Boas Leituras!

Publicado por Fábio J. às 23:14

é tão verdadeira essa escassez de palavras pala descrever um livro. por mais que se escreva ficamos sempre aquém do patamar necessário para realmente falar da obra. comigo acontece. acabo sempre por dizer :' leiam'

este será mais um na lista, fiquei curioso (demorará- leio bastante devagar). estou actualmente a ler 'a rapariga que roubava livros'

resta dizer que o filme é muito bom.
Tiago a 20 de Agosto de 2009 às 13:06

Por vezes é me realmente difícil organizar em palavras e frase as sensações que um livro transmite. Acaba sempre por faltar alguma coisa, por melhor que seja a capacidade de síntese de quem comenta. Este é um daqueles livro que alimentam uma boa tertúlia ao fim da tarde, fazendo-nos esquecer o tempo. Mais: é um daqueles livro que, de alguma forma, nos muda. É mesmo caso para dizer: leiam!

Eu também leio devagar. Por vezes deparo-me com pessoas que lêem a uma velocidade que me parece vertiginosa. Gostava de ler mais rápido, para poder ler mais, mas também há obras que exigem uma leitura lenta, para um maior deleite.
Oh, A Rapariga que Roubava Livros parece ser uma leitura deliciosa. Gostava de ter oportunidade de lê-la, pois desde o seu lançamento que me cativou.

Quanto à adaptação cinematográfica deste livro, penso nunca ter visto. Mas vou ficar atento à televisão, ou então alugar o DVD, pois não quero deixar de ver.
Fábio J. a 20 de Agosto de 2009 às 22:46

A Rapariga que Roubava Livros  é deveras um livro fascinante e realmente uma leitura deliciosa numa escrita complectamente original e desigual do que se tem editado em Portugal. Nao percas...

devo confessar que reservo algumas expectativas pela tua critica ao ' The shining' .
achei curiosa a sondagem ( na sei q nome dar aquilo =) já que há uns meses me vi no mesmo dilema (historiador vs a luz ).

.
Tiago a 24 de Agosto de 2009 às 20:58

Já tinha o livro em consideração, mas com o teu comentário acaba de o fazer saltar para o top da minha wishlist. Vou começar a procurá-lo nas livrarias e campanhas especiais.

Quanto ao A Luz, ainda posso dizer pouco, porque só li algumas páginas. Mas já retive alguns aspectos positivos e negativos. Estou muito curioso. Afinal trata-se de Stephen King e dum género que conheço muito pouco. A ver vamos.
A questão que coloquei aos visitantes deveu-se a esse dilema. Quero ler os três livros que propus como opções, mas não sabia por qual começar. Achei que os meus visitantes podiam escolher por mim. Resta esperar para ver se escolheram bem :D

Até Breve!
Fábio J. a 24 de Agosto de 2009 às 22:51

Eu não comprei o livro mas já o vi pelos hipermercados.

Acho que vou mesmo deixar o Historiador na prateleira para data indefinida, parece-me incrivelmente aborrecido e definitivamente na me atrai (talvez esteja enganado), alias a minha edição ( penso que seja a mesma que a tua) está impressa sobre um tipo de letra demasiado pequeno tornando as paginas pouco cativantes.

Votei n'a luz'  já que era o único que havia lido. não quero falar nele agora)

conheces ' Comboio nocturno para Lisboa' - Pascal Mercier -?
Tiago a 26 de Agosto de 2009 às 21:18

Eu já li críticas positivas e negativas acerca d'O Historiador, mas confesso que tenho muita curiosidade. Parece-me uma história complexa... se isso se traduzirá em aborrecimento é que já não sei.
A minha edição é a da Biblioteca Sábado, como imagino que seja a tua. E claro, tem as letras pequenas e um espaçamento pouco confortável. Mas, tendo em conta que o livro custa 25€ e eu só paguei 1€, acho que não me posso queixar :) Mas sim, a estrutura do livro dificulta a sua leitura.
Já não sei quando o lerei...

Já tinha visto a capa de Comboio Nocturno para Lisboa várias vezes, mas nunca havia lido a sinopse... e é estranho, porque eu leio montes de sinopses. Li agora, e fiquei de boca aberta: achei a história muito peculiar, sobretudo por se relacionar tão estranhamente com Portugal. Fiquei curioso, muito sinceramente que fiquei. Já leste?
Fábio J. a 27 de Agosto de 2009 às 23:47

sim é a mesma ediçao. na sabia o preço original mas tens toda a razao, nao há muito que reclamar. fico todo contente quando a sabado resolve dar o ar da graça com iniciativas tais. dou o exemplo de ' uma conspiraçao de estupidos' tenho a certeza que nunca me cruzaria com esse livro de outra forma (autor nada conhecido) e acabei por adorar.

li o Comboio Nocturno para Lisboa talvez na melhor fase de leituras da minha vida e mesmo assim é um dos que mais me marcou e sem duvida um dos meu 3 livro preferidos. quando li a sinopse queria logo le-lo mas a oportunidade foi-se perdendo e este ano acabei por recebe-lo num concurso. posso dizer que é muito mais que a sinopse. é simples , claro, muito coerente. o protagonista vive grande parte da historia em lisboa, nos becos da baixa, entre as questoes mais filosoficas e essencias da humanidade e uma outra personagem (das melhor que ja encontrei) dotada de uma compreensão do mundo e de si mesma que chega a arrepiar.
claro que está longe da perfeiçao e tambem tem as suas lacunas .mas é impossivel ficar indiferente.
Tiago a 28 de Agosto de 2009 às 00:18

Eu desde que li os primeiros livros da Biblioteca Sábado, tenho adquirido todos os livros. É exactamente como referiste: a colecção proporcionou-me leituras que, de outra forma, nunca teria, algumas delas muitíssimo boas. E depois é tão variada... enfim, irei continuar a adquirir e a ler. (Já agora, ainda não li Uma Conspiração de Estúpidos, mas irei reorganizar a minha lista devia à tua opinião.)
Bem, as tuas palavras sobre Comboio Nocturno para Lisboa deixaram-me mesmo curioso, sobretudo "questoes mais filosoficas e essencias da humanidade" e "dotada de uma compreensão do mundo e de si mesma que chega a arrepiar": adoro isso. O facto de ter sido escrita por um filósofo também deve ter ajudado (de repente senti saudades das aulas de Filosofia). Definitivamente, o livro vai para a minha lista. O único problema é o tamanho da lista...

Obrigado pela sugestão! Sem dúvida que a terei em consideração.

Até Breve!
Fábio J. a 28 de Agosto de 2009 às 00:51

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