Ontem foi o dia Mundial do Teatro. Uma arte tão próxima mas tão distante da literatura. Serve-se de histórias, de imaginação. E, contudo, tem no espectador apenas uma parte do que um livro tem no leitor...
Mudando de assunto. Já foi comum ler-se livros de fantasia dentro da tradição legada por Tolkien. Foi, porque agora é comum ler-se os melhores livros de fantasia desde Tolkien. Os tempos evoluem. As técnicas para vender livros também.
Foi com esta premissa que Susanna Clarke nos apresentou o seu romance de estreia, Jonathan Strange & o Sr. Norrell. Aliás, leia-se a crítica: “É uma narração singularmente bem sucedida, cuja estrutura se alicerça em três pontos essenciais - no formalismo de Charles Dickens e Jane Austen, nas lógicas do fantástico da "velha escola" de J.R.R. Tolkien e no engenho de mestres da fantasia que nos estão bem mais próximos como Alan Moore, Philip Pullman e, especialmente, Neil Gaiman”. Pergunto eu: alicerçada em todos estes autores e respectivas obras, o quê que a autora tem de realmente novo para contar? Fiquemo-nos pela sinopse da obra.
É necessário recuar vários séculos, quando a magia habitava a Inglaterra. Nessa época houve um mago que se distinguiu entre todos os outros. Chamou-se Rei Corvo, foi criado por fadas e, como nenhum outro, soube conjugar a sabedoria desses seres com a razão humana. Mas tudo se alterou a partir do momento em que um rei louco e alguns poetas mais arrojados fizeram com que a Inglaterra deixasse de acreditar na magia... excepto o Senhor Norrell.
A obra conta-nos, precisamente, a história da parceria entre Jonathan Strange e o Senhor Norrell, passada no século XIX. O primeiro é um jovem, rico e brilhante (mas também arrogante), que descobre por acaso que é um mago, tornando-se, então, discípulo do segundo, um homem solitário que faz andar e falar as estátuas da catedral de York, e que acredita que poderá ajudar o governo de Sua Majestade na guerra contra Napoleão.
“Os feitos de ambos hão-de maravilhar a velha Inglaterra. Até ao momento, no entanto, em que a parceria, que parecia destinada ao sucesso, virará rivalidade. É que, fascinado pela figura sombria do Rei Corvo e atraído pela sua "insensata busca" por magias há muito esquecidas, Jonathan haverá de pôr em causa tudo o que Norrell mais estimava.”
Não me parece nada mal, não senhor. Mas mais importante do que as críticas ou as sinopses é ler e poder dar a opinião pessoal, e eu estou tentado a faze-lo. Apesar de tudo, a conjugação das duas realidades em causa, a magia e a Inglaterra do séc. XIX, parece-me bastante interessante e criativa.
Editado em 2005, em Portugal, refiro agora esta obra pois foi recentemente publicado o segundo livro da autora, As Senhoras de Grace Adieu, que conta com parte do mundo do seu precedente. Amanhã pretendo escrever algo sobre ele.
Jonathan Strange & o Sr. Norrell de Susanna Clarke
Assim sendo, bom fim-de-semana e Boas Leituras!