Abril 25 2008
Há 34 anos Portugal mudou.
O seu povo ganhou a liberdade e, graças a ela, aquilo que só a livre escolha e o livre pensamento possibilitam: a evolução social e económica e o enriquecimento cultural.
Sem as mesmas censuras, intimidações ou receios de uma política castradora, embora ainda não livres do autoritarismo, podemos agora conhecer e desfrutar daquilo que qualquer livro nos tem para oferecer.
E porque, afinal, a mente tema em esquecer o passado, deixo aqui a referência a alguns livros que puderam ajudam a relembrar como foi a mais romântica queda de uma ditadura, aquela que ficou conhecida como Revolução dos Cravos e que libertou pensamentos e palavras.
A Campo das Letras editou recentemente 25 Olhares de Abril, uma obra que conta com a visão de 25 autores portugueses que viveram esta data. Independentemente da visão que cada um tem, todos os autores deste livro se sentem unidos por um sentimento comum – o de que deixam o seu testemunho genuíno e autêntico sobre um acontecimento que mudou a vida de todos os portugueses.
Já dentro da especulação temos 25 de Abril - Mitos de uma Revolução de Maria Inácia Rezola. Esta obra propõe-se a apontar uma outra visão das motivações do grupo de jovens capitães que leva a cabo um golpe de Estado que, em menos de 24 horas, derruba uma ditadura que dominava Portugal há mais quatro décadas. Tratou-se de uma revolução em prol da liberdade? Houve ou não uma tentativa de golpe de Estado? Quais os seus autores?
Por sua vez, a Saída de Emergência sugere A Revolução dos Cravos de Sangue, de Gerard de Villiers, uma obra que pretende dar a conhecer o lado secreto do 25 de Abril de 74. Neste livro, estamos em Portugal, no rescaldo do 25 de Abril, e Lisboa é um tabuleiro de xadrez onde CIA e KGB jogam uma partida mortal. Uns tentam impedir que Portugal caia no comunismo, outros por em prática uma plano diabólico. É o próprio equilíbrio da Guerra-fria que está em jogo.
Por fim, Salazar – A Cadeira do Poder, de Manuel Poirier Braz, uma obra biográfica sobre Salazar, um dos homens mais marcantes e polémicos da recente História de Portugal, na qual podemos encontrar uma análise da sua vida e da forma como determinou o destino de um país durante quase meio século.
Só falta escolher e conhecer. Porque o mais importante é não esquecer o passado para melhor viver no futuro.

Publicado por Fábio J. às 23:11
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Abril 23 2008
Assinala-se hoje o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Esta pode parecer uma designação formal e com pouco significado mas, na realidade, encerra em si a valorização de um importante objecto das sociedades actuais: o livro.
Comemorado, desde 1996 e por decisão da UNESCO, a 23 de Abril, dia de São Jorge, esta data foi escolhida para honrar a velha tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros oferecem às suas damas uma rosa vermelha de São Jorge e recebem em troca um livro.
Para além disso, é prestada homenagem à obra de dois grandes escritores, Shakespeare e Cervantes, falecidos em 1616, exactamente a 23 de Abril.
A UNESCO continua, desta forma, a enaltecer a importância do livro, considerando-o “um instrumento único de cultura, educação, comunicação e divertimento”. O director-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Koichiro Matsuura, afirmou ainda, na mensagem alusiva ao Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor, que “o livro contribui para construir e manter o tecido educativo, cultural e económico das nossas sociedades, onde desempenha múltiplos e fundamentais papeis”.
Este ano, a UNESCO concedeu o título de Capital Mundial do Livro a Amsterdão, mas um pouco por todo o mundo desenvolveram-se várias iniciativas para assinalar este dia, quer em livrarias, quer em bibliotecas ou escolas. Destaque ainda para os descontos ou oferta de portes em várias livrarias virtuais portuguesas.
Para um leitor apaixonado, esta é uma data simbólica. Uma data que concretiza e defende a sua dependência face ao livro, porque afinal, quanto melhor se conhece a magia e poder que conserva, maior é a necessidade de o possuir e sentir. Por isso lemos e sentimos, por isso lemos e descobrimos mundos para além do mundo.
Como uma chave mestra que abre as portas dos corredores da fantasia, da descoberta, do pensamento e da reflexão, o livro é uma peça primeira no caminho da vida, capaz de libertar a mente e relaxar o corpo, capaz de libertar o leitor de um mundo real e apático, frívolo e finito, e de o levar a um nível superior e único.
Insubmisso, temerário, fiel. Assim é um livro. Assim é um leitor. Assim é aquele que ousa mergulhar no oceano das palavras e aprender com elas.
Viva o livro!

 
Publicado por Fábio J. às 22:43
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Abril 17 2008
Já quase um mês passou desde que aqui publiquei sobre Jonathan Strange & o Sr. Norrell, e desde que recebi alguns comentários que reflectiram opiniões bastante diversas acerca da referida obra. Ora, apesar das discordâncias, num ponto todos concordam: é uma história diferente. E é precisamente na peculiaridade da narrativa de Susanna Clarke que reside a causa de opiniões tão distintas.
Numa espécie de continuidade, a autora britânica que viu o seu romence de estreia ser premiado com vários prémios apresenta-nos, agora, As Senhoras de Grace Adieu, uma nova obra de ficção especulativa que mantêm vários elementos do fantástico apresentado no primeiro livro como o próprio Jonathan Strange e o legendário Rei Corvo.
Misturando a fina comédia social vitoriana com temas clássicos do imaginário britânico, e o rigor histórico com uma fértil imaginação, Susanna Clarke transporta o leitor a um mundo singular e inesperado, cuja atmosfera possui o sabor simultaneamente fascinante e temível dos sonhos.
Nesse mundo, duendes e fadas não estão tão distantes como imaginamos. Por vezes basta atravessar uma linha invisível para descobrir que podemos encontrar princesas petulantes, mochos horripilantes, senhoras que passam todo o seu tempo a bordar maléficos destinos ou deparar-nos com bosques sombrios e casas funestas que mudam de aparência constantemente.
Entre os heróis e heroínas que povoam estes contos de fadas podemos encontrar o duque de Wellington ou Maria Stuart, rainha da Escócia, personagens desta obra que combina fantasia para adultos com romance histórico de costumes.
Na versão original, The Ladies of Grace Adieu and Other Stories consiste numa colectânea de oito contos, dos quase faz parte The Ladies of Grace Adieu, escrito em 1996. Fica por esclarecer se a versão da Casa das Letras se resume apenas a este conto principal, o que provável já que, em Portugal, as editoras parecem recear publicar livros de contos, ou se podemos contar com a tradução integral da colectânea.
Destaco este livro pela mistura de temas que apresenta, para sua aparente singularidade e pelo facto de se seguir a um romance que, ao que parece, está já a ser adaptado pela New Line para cinema, em mais uma tentativa de imitar o sucesso da trilogia de Tolkien.
Quem já leu que opine. Quem não o fez que pense bem antes de ler esta obra tão caprichosa.

As Senhoras de Grace Adieu de Susanna Clarke

 
Boas Leituras!!!
Publicado por Fábio J. às 22:58

Abril 13 2008
Passou, esta tarde, na SIC, a final do Campeonato da Língua Portuguesa. Já tinha começado havia algum tempo quando liguei a TV, mas vi um interessante comentário feito pela apresentadora. Aquando da entrada em palco dos finalistas do grupo “maiores de 18 anos”, Barbará Guimarães congratulou os concorrentes e apelidou-os de heróis, por já terem experimentado várias reformas na Língua de Camões. Sem dúvida herói é o que todos somos quando suportamos a legislação da língua e as suas constantes mudanças, continuando, contudo, a escrever um correcto português.
Como imaginei, o debate na Assembleia da República, feito na passada segunda feira, em nada simplificou o problema, e portanto continuamos longe de o solucionar. Pelos vistos a odisseia ortográfica continuará.
A odisseia já dura há décadas, e o mais irónico é que mesmo que este acordo entre em vigor, a língua continuará a ser muito diversificada, mesmo a nível ortográfico. Há vários meses encontrei, no site da Voz de Ermesinde (à partida um jornal dessa localidade), a possível solução para este problema. Entretanto perdi o endereço, mas hoje reencontrei-o e não resisto a partilhá-lo. Transcrevo-o abaixo:
Sem dúvida que é uma solução radical e em tom de brincadeira, mas no meio de tanta idiotice e obtusidade pergunto-me se não será a opção mais sóbria. Pelu menus esteriamus a escrever tal cumo falamus, i talvez fôse muitu mais fácil universalizar a língua. Enfim, ipotezes á muitas, á e qe ignurar as más.
Boa semana.
Publicado por Fábio J. às 22:45

Abril 06 2008
Pode parecer que muito tempo já passou, mas foi apenas há cerca de 4 meses que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa se tornou tema de conversa de muita gente. Polémico e obscuro, o documento será vítima de debate e analise por políticos, escritores, editores e outros intelectuais já amanhã, na Assembleia da República.
No mês passado, o Governo português comprometeu-se a adoptar as medidas adequadas para garantir o processo de transição, no prazo de seis anos, para a aplicação plena das alterações contempladas no acordo, mas para entrar em vigor falta a sua ratificação por parte da Assembleia da República.
É inútil esperar uma outra resolução que não a ratificação e posterior promulgação deste documento. O debate, necessário, não passa de uma acção simbólica que permitirá ao Governo, que ironicamente (e ditatorialmente) já ratificou o Acordo, defender-se de dedos acusadores e vozes descontentes. É a oportunidade de o outro lado opinar, mas parece-me que nesta democracia representativa (termo irónico e contraditório) de nada vale a opinião de quem defende uma solução menos aparatosa e obtusa.
Mas, nesta altura, mesmo aqueles que se esforçam por conhecer o que muda apercebem-se, com estranheza, que não é fácil perceber como passar a escrever correctamente. Esta ignorância colectiva é, aliás, um dos maiores problemas deste documento. Já existem auxiliares linguísticos no novo português, nas pergunto-me se a melhor (e única) solução é ler um dicionário? E serão os 6 anos apontados pelo governo suficientes para que os portugueses passem a escrever, correctamente, as suas cartas para a família, os seus apontamentos escolares, os seus relatórios profissionais (nomeadamente os científicos) ou até os seus textos para os blogues? Hmm
Já há quem escreva (ou melhor, tente escrever) usando a nova ortografia, talvez esquecendo-se que ainda não foi aprovada. Há quem esteja ansioso pela mudança (apenas porque gosta de coisas novas), irá passear-se com os novos dicionários e tentar escrever de acordo com o documento. Há também quem pretenda aguardar os seis anos dados pelo governo, e ir fazendo a adaptação a que é obrigado. E, por fim, há aqueles que prometem ignorar este Acordo sempre que possível, continuando a escrever no actual Português.
Opções à parte, a verdade é que se avizinham tempos decisivos para a nossa língua. Não que se torne mais importante a nível mundial, mas apenas porque se dará uma mudança a sua forma de ser.

 

O Acordo Ortográfico foi ratificado. Vai aplica-lo?

 

8.62% Sim, agora
12.06% Sim, daqui a 6 anos
62.06% Não
17.24% Qual acordo?

 

Total: 58 respostas

 

Amanhã veremos se o debate teve alguma influência no que já foi feito.

Boa semana e Boas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 22:59

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O autor deste blog não respeita o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa