Quarta-feira. O último dia com responsabilidades escolares do período. Uma sensação óptima.
Tal como já devem, de algum modo, ter notado, hoje começa a Primavera, a estação do amor, do renascimento, da alegria... enfim, de tudo aquilo que é positivo. Mas hoje é também uma data assinalável no mundo literário. Talvez por ser um dia no qual se venera o puro e o belo, hoje é também comemorado o Dia Mundial da Poesia, essa profunda e especial forma de usar as palavras, de transmitir sentimentos.
Instituído na 30ª Conferência Geral da UNESCO, em 1999, o Dia Mundial da Poesia resultou da constatação de que existiam no mundo necessidades estéticas por satisfazer e de que a poesia podia preenchê-las. E têm razão.
Existirá género mais íntimo que a poesia? Haverão palavras mais belas que as da poesia? E encontrar-se-ão mensagens mais harmoniosas que as da poesia? Talvez não, pois a poesia, com toda a sua subjectividade, chega ao coração do leitor sem ultrapassar barreiras e sem ser travada.
Para além disso, a matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extrai a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique romper ideias preconcebidas e normas inquestionáveis.
Na lírica, cada verso é um fôlego dado na travessia dum oceano, oceano esse que contamina todo o ser e o transforma, levando-o para um lugar onde nem corpo nem mente são concretos e para onde as ondas das palavras chocam com a praia mais surreal, mais incrível ou mais terrível.
Dor e prazer, amor e ódio, luz e trevas. Cada estrofe é a montanha que segura o céu e nos tapa o horizonte, só para depois o vir mostrar, com espantosa perfeição.
A poesia não se lê sentado, não se lê de pé. Não se lê acordado, nem se lê a dormir. A poesia lê-se a flutuar e a divagar, tal como uma folha solta ao vento e que é levada por onde o destino a quer levar.
Tal como dizia Pessoa, “o poeta é um fingidor”, e é por ser assim que podemos acreditar no que diz, pois só a fingir se consegue dizer tudo aquilo que se sente, tudo aquilo que nos preenche o âmago.
Tal como já disse não ocupo muito tempo a ler poesia. Leio mais quando sinto necessidade, quando preciso. Pois tal como a água apaga a sede do homem, a poesia apaga a sede do humano, e quem dela não beber sentirá sede e cairá...
Toda a poesia é luminosa, até a mais obscura. O leitor é que tem às vezes, em lugar de sol, nevoeiro dentro de si. Eugénio de Andrade
Boas poesias.