Acabo de ler um
artigo do Diário de Noticias, no site da Editorial Presença, intitulado “A Longa Viagem Da Literatura Fantástica Em Portugal” que trata o tema homónimo. Entre muitas outras coisas, o artigo refere que a edição e leitura deste género está a aumentar em Portugal e no mundo, mas que existe também a possibilidade desta quantidade ser inimiga da qualidade. Tal como alguém lá diz, cabe ao leitor decidir o que ler, mas não deixa de interessante observar o crescimento deste género, muitas vezes marginalizado, duma forma quase desenfreada.
Uma das escritoras que lá opina é Sandra Carvalho, autora da Saga das Pedras Mágicas, uma das séries portuguesas de maior sucesso, dentro do género. Como é sabido a saga conta já com 3 livros publicados, dum total não confirmado de seis. Depois de ter lido os dois primeiros e me ter encantado com a história o terceiro livro era obrigatório.
“Estranho” foi o primeiro adjectivo que atribuí ao livro, já que a narrativa parecia não encaixar com a dos anteriores e muito do que era descrito parecia fazer parte de qualquer outra história, excepto esta. Talvez pela mudança de protagonista (e pelo facto da anterior ser destituída dum lugar com real importância) senti que me encontrava a ler outra história, e no final acho que o melhor a fazer é mesmo isso: ler este livro como se não fosse a continuação dos anteriores.
O início também foi marcado pela confusão, já que os nomes eram tantos que distinguir personagens se tornava uma tarefa complicada. E uma diferença desta obra reside precisamente na quantidade de personagens e na forma como são abordadas. Ao invés de acompanharmos uma Catelyn independente, centro da história, acompanhamos uma Edwina quase pública numa história que não vive sem as suas irmãs, primos e tios.
Fui também dominado, num primeiro momento, pela surpresa (inclinada para o horror) quando vejo elfos, sereias e demónios entrarem nesta história sem baterem à porta. Numa história com aliados, viquingues e vândalos, era necessário incluir estas criaturas e assim arruinar os pilares originais da saga? Pelos vistos sim, já que foram fundamentais e eu até gostei bastante de algumas das suas partes, mas este é um dos factores que marca a separação entre a primeira e a segunda geração da história e que vem também provar que esta não tem de ser encarada como negativa.
Apesar de tudo isto, acompanhar Edwina foi um prazer. Tal como a mãe, esta precisa treinar e reunir forças para cumprir a sua missão na luta contra o mal, derrubando o inimigo e salvando o mundo. Sempre movida por sentimentos (como manda a moral da saga) Edwina vai ultrapassando os obstáculos até se tornar a Guardiã da Lágrima do Sol, a Rainha do Sol. Tal como ela, Edwin revela-nos a força da vontade e como apenas de nós dependem os nossos actos.
Lá para o final da história não pude deixar de chamar “burros!”, como respeito ao animal, quando as personagens caminham em direcção ao abismo com um sorriso no rosto. Aquele desejo de “se estivesse lá eu!” esteve em mim várias vezes, o que demonstra que realmente vivi a história.
Particularizando, fui arrebatado com as mortes e surpreendido por vários acontecimentos. Edwina não deixa ficar mal a mãe e é também dominada por sentimentos confusos, assim como as suas irmãs. O facto de nesta história acompanharmos várias personagens permitiu à autora debruçar-se sobre imensos temas que, nas sub histórias, puderam ser desenvolvidos e suscitar bastante protagonismo e interesse.
Em certos momentos esta história pareceu-me um pouco “forçada”, já que os acontecimentos não eram muito bem justificados, mas provavelmente é a minha avaliação enquanto fã que influencia esta crítica.
No final ficam várias questões no ar que só serão desvendadas no próximo volume. Inferior aos antecessores, algumas diferenças desta obra podem ter-me surpreendido negativamente, mas mesmo assim esta é uma obra a ter em atenção e que me proporcionou fantásticos momentos de leitura.

Lágrimas do Sol e da Lua de Sandra Carvalho




Boas Leituras!!!