Outubro 05 2007
Ainda pouco tempo passou desde o final das férias de Verão e eu já conto as semanas que faltam para as de Natal. E agora que o trabalho se começa a acumular, nem os fins-de-semana prolongados proporcionam grandes momentos de descanso.
Mas para a leitura há sempre um pouco de tempo, e quando leio Goor – A Crónica de Feaglar I, esse é sempre bem passado. A história está a revelar-se surpreendente e a expressividade do autor deixa bem claro que me refiro a um escritor português. Por melhor que sejam as traduções, apenas uma obra nacional consegue usar a nossa língua duma forma tão completa e expressiva, marcas que Pedro Ventura demonstra saber concretizar.
Talvez Goor e o seu autor não sejam conhecidos de todos. É-nos impossível, enquanto humanos, conhecer tudo sobre determinada área, mas acredito que, no caso dos livros, existem factores importantes no que toca ao destaque que cada obra. Um deles é a editora.
Em Novembro do ano passado, questionei os visitantes deste blog sobre “a primeira coisa tida em atenção num livro desconhecido”. A editora foi a opção menos votada mas acredito que, embora o leitor não preste atenção à editora, é provável que, imperceptivelmente, só preste atenção ao título, ao autor ou à capa, porque a obra foi lançada por determinada editora.
Sob o meu ponto de vista pessoal, em Portugal, o mercado livreiro está demasiadamente monopolizado. Veja-se o caso complicado entre a Bertrand e várias editoras nacionais. E, depois, analise-se também a quem pertencem a maioria dos best-sellers dos tops portugueses. No fundo, a realidade é que os livros que vemos nas montras das livrarias e nos expositores dos hipermercados não estão lá (apenas) por serem bons, mas principalmente por haver uma grande aposta por parte das editoras em obras e autores que lhes parecem rentáveis. Chamar-lhe-emos marketing, pois no fundo é isso que este “jogo” é. Lembram-se de A Guerra dos Tronos e da sua promoção? O seu lançamento já foi apelidado como “a maior promoção do mercado editorial” em Portugal.
A verdade é que existem editoras de grande êxito, tanto por editarem bons livros, como por tornarem em sucesso um livro que à partida não se destacaria. Utilizando uma série de estratégias, existem editoras que transmitem confiança ao leitor e chegam a ser, para alguns, sinónimo de qualidade. Existem pessoas que, por exemplo, completam colecções inteiras de determinada editora: no final de contas, vão estar a ler livros bons e alguns menos bons que a editora soube enquadrar e tornar apelativos.
O ideal seria que o mais importante fosse a qualidade, mas não me choca saber destas jogadas comerciais. Para o bem ou para o mal, existe um mercado livreiro no qual se vendem mercadorias, neste caso os livros, em troca de dinheiro. É, portanto, normal que as editoras queiram vender.
Mas é fundamental não esquecer as pequenas editoras, desconhecidas da grande maioria das pessoas e que, ou por editarem um género com menos tradição em Portugal, ou simplesmente por seguirem uma linha diferente na divulgação e lançamento dos seus autores e obras, acabam por ser deixadas de lado, tendo por vezes, sob a sua alçada, verdadeira pérolas literárias.
Seja como for, e independentemente da editora e da razão pela qual nos interessamos por um livro e nos decidimos a lê-lo, enquanto leitores é essencial exigirmos qualidade e procurarmos livros que sejam mais do que peças neste enorme jogo real.
 _______________________________

Boas editoras existem.

 

54.76%

sim

7.14%

também.

38.09%

o que interessa são os livros.

 

Total: 42 respostas

 Até Breve e Boas Leituras!
Publicado por Fábio J. às 23:32

Obrigado pelas tuas palavras.

Neste post tocas num assunto muito importante - o "poder" das editoras e como elas podem, ou não, catapultar um livro. Haveria muito para dizer, mas acho que dizes o essencial, o mais importante. A editora é realmente uma peça fundamental neste negócio ( para mim não é negócio, apenas carolice... ) e é claro que as hipóteses de sucesso comercial aumentam proporcionalmente á dimensão da editora. Eu, por exemplo, tive diversas pessoas que me diziam que não conseguiam encontrar Goor nas livrarias e só isso já revela esse handicap que temos. Mas pronto, temos de ter espírito de luta e tentar compensar essas falhas da melhor maneira que conseguimos. Ao contrário dos autores da grandes editoras, que até têm os livros nos Continentes e Jumbos do país, nós não nos podemos sentar à espera que os frutos "caiam das árvores"... Temos de nos mexer! Mas é complicado... Somos pessoas normais, com empregos ou que estudam, sem tempo, sem fundos, apoios, etc, etc... Mas temos de nos esforçar!
Paralelamente a este problema das editoras, temos um outro, que estranhamente, nasce do seio de grupos que, supostamente, gostam ( e vivem no meio comercial ) da fantasia e da FC. E o problema é o preconceito que essas pessoas têm contra o que é português. Para eles, existe uma torre de marfim "intelectual" com determinados dogmas e um desses dogmas é: recusar aquilo que é nacional! - talvez até por interesse próprio, que sabe?... Infelizmente, não é só na literatura que temos esse defeito...
A esses só lhes digo: na literatura não existem dogmas, nem classificações! O objectivo de qualquer livro é agradar e ser lido com prazer! As modas, os tiques intelectuais, tudo isso é relativo e o Livro é muito maior do que todas essas prerrogativas, regras, parvoíces...
E depois temos quem diga que o fantástico é um género menor... infantil... Esses são os que pouco sabem de literatura ou de história... Atrevam-se a descobrir a fantasia! E se a imaginação é uma coisa infantil, então serei criança para sempre e este nosso mundo sempre foi infantil, pois não terá sido o sonho e a imaginação que sempre o fizeram avançar?

Enfim, desculpa lá o longo desabafo! :)

Felizmente, haverão sempre livros e leitores e é isso que interessa. Se eu conseguir dar o prazer da leitura a uma só pessoa que seja, então já cumpri o meu objectivo e acredita que talvez me sinta mais feliz que o tipo que vendeu milhentos exemplares. :)

Grande abraço e continua com o teu excelente trabalho!
sá morais a 6 de Outubro de 2007 às 14:06

Isto é só uma pequena nota, depois de ter lido a primeira parte. Alguns momentos da primeira parte foram-me um pouco estranhas, mas agora estou completamente rendido e quase viciado, sério!
Conseguiste acelerar o meu ritmo cardíaco!

Gostei imenso do comentário. Isto dava um post!
Não estou por dentro deste mundo, mas mesmo de fora é possível constatar as enormes diferenças entre autores e editoras. Há aqueles que vendem imenso por aparecerem todos os dias a apresentar um programa de TV, e aqueles que tendo outras actividades, não sendo licenciados nem se acharem escritores conseguem fazer verdadeira arte e por o leitor a vibrar.
Outro ponto que acho estranho é o facto de em diversos blogs e sites de autores nacionais apenas serem referidos autores estrangeiros, tratados como mestres, quase idolatrados... mas que ninguém conhece. Quem vir de fora certamente pensará que serão eles os únicos a escrever no seu pequeno país.

Concordo plenamente! Só menospreza a fantasia quem não a conhece ou não gosta de ler. Num livro de fantasia encontramos muitos outros géneros. Aliás, não existem barreiras estanques entres os géneros, e penso que a fantasia é o mais abrangente de todos.

Não tens de pedir desculpas, foi um enorme prazer ler o comentário.
E já agora, por mim já cumpriste o teu objectivo!

Até à próxima!
Fábio J. a 7 de Outubro de 2007 às 23:17

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