Muito se tem especulado, inclusive aqui neste blog, sobre o valor do sector literário, não a nível cultural ou social, mas a nível financeiro. Estratégia, marketing, zelo profissional, enfim, são várias as causas possíveis para o silêncio das editoras no que toca aos números, sejam eles lucros ou vendas. No entanto, esta tendência parece estar a mudar. Será apresentado, amanhã na Biblioteca Nacional, o “mais exaustivo inquérito ao sector do livro”, encomendado pelo Ministério da Cultura e realizado por oito investigadores ao longo do último ano. Este estudo fará um levantamento das tiragens dos livros, postos de trabalho do sector e adaptação às novas tecnologias. A ver vamos se é desta que fica esclarecido o quão frágil (ou não!) é este sector.
Um dos escritores que certamente passa ao lado de qualquer possível (ou imaginária?) crise do sector é José Rodrigues dos Santos, o popularmente conhecido jornalista português. Há muito namorava a obra que o consagrou como escritor de best-sellers: O Codex 632.
As expectativas eram muitas mas, embora não decepcionante, a obra revelou-se aquém dos vários elogios a ela atribuídos e, verdade seja dita, do que seria de esperar dum livro tão vendido. Não, não o achei mau... simplesmente acho que podia ser melhor.
Há quem apelide o autor de “Dan Brown português”, eu próprio já o fiz e volto a faze-lo, com uma excepção: ambos especulam, ambos baseiam-se em factos e dados incertos, ambos apresentam uma escrita simples, mas José Rodrigues dos Santos brilha e estimula menos.
Como grande apreciador de História Mundial, uma nova teoria sobre a origem de Cristóvão Colombo não podia deixar de parecer mais interessante. Usando Tomás Noronha como um peão num tabuleiro de xadrez, o autor desenvolve uma tese credível mas pouco clara e muito repetitiva sobre a origem do descobridor da América. Conseguiu convencer-me, e até maravilhar-me com tais especulações e factos, mas a maneira como o faz pareceu-me pouco inteligível. Tantas referências, tantas datas, tantos excertos naquela e na outra língua, contribuíam para a confusão. E as descobertas, raramente partilhadas com o leitor, apenas lhe são apresentadas quando o protagonista as compreendeu, fazendo desta tentativa de criar expectativa uma barreira ao entusiasmo.
Paralelamente, acompanhamos a vida familiar do protagonista. E se por um lado esta história secundária dá um novo ritmo à obra, por outro parece-me bastante hiperbolizada. A verdade é que, se inicialmente pouco interesse lhe atribuía, à medida que as páginas iam sendo viradas este enredo começou a chamar-me a atenção, culminando num desenlace emotivo. No fundo, esta sub história serviu de bóia de salvamento a outra principal que apresenta um desfecho pouco animador, apesar de original.
Resumindo: A teoria acerca do descobridor é convincente e bem fundamentada, embora apresentada duma forma um pouco mal adequada a um romance. Apesar das minhas críticas, gostei do livro e pretendo ler os restantes da “trilogia Tomás Noronha”, embora não o vá adicionar à minha lista de favoritos. Por outro lado, a obra serviu para estimular o meu interesse sobre romances que especulam a História da época dos Descobrimentos, uma área bastante desenvolvida na nossa literatura.
O Codex 632 de José Rodrigues dos Santos
Boas Leituras!!!