Comemoram-se hoje os 400 anos sobre o nascimento de Padre António Vieira, um jesuíta português que passou grande parte da sua vida no Brasil, pregando os seus famosos sermões. Atravessou o Atlântico sete vezes, e condenou os vícios humanos, defendendo as virtudes cristãs assim como os índios da então colónia portuguesa. Fernando Pessoa apelidou-o de “Imperador da Língua Portuguesa”, e tê-lo-á sido, tal era a riqueza de ideias e admiráveis imagens dos discursos que nos legou.
Lembro-me que há algum tempo, já não sei bem onde, um brasileiro destacava Padre “Antônio” Vieira como um dos maiores escritores brasileiros. Importantes acontecimentos da sua vida passam-se lá; os seus mais conhecidos sermões foram apresentados lá, dirigidos (principalmente) aos homens de lá; morreu lá; mas a nacionalidade é a de cá. Seja como for, na época tudo era Império Português, e todos eram portugueses, falantes de um Português uno... o mesmo não se verifica nos nossos dias.
Pergunto-me como escreveria este ícone da literatura se tivesse nascido no Portugal do séc. XXI e emigrado, posteriormente, para o Brasil. Teríamos uma mistura do léxico dos dois países? Qual ortografia usaria ele como base nos seus sermões? Nesta perspectiva, talvez este Padre António Vieira da actualidade optasse por defender a união das duas variantes da sua língua, facilitando o entendimento entre os povos. Contudo, receio bem que a sua ideia não tivesse pés para andar: é impossível manipular o léxico de um povo, e sem isto não há união ortográfica que valha a pena. E como defensor dos autóctones, certamente este homem não apoiaria a imposição, quase ditatorial, de uma mudança que acarretaria mais incomodo do que alguma possível vantagem, principalmente se esses povos vivessem num (suposto) país democrático. Mas tudo isto não passa de uma suposição, pura fantasia. Os ícones não voltam... e a realidade actual é bem diferente.
Nesta realidade, um acordo ortográfico é mais do que fantasia e, no entanto, a maioria das pessoas, aquelas a quem foi prometo decisões democráticas, é contra esta tentativa unir as variantes do português existentes por todo mundo. Mais de 70%, fiando-me na amostra de utilizadores deste modesto blog.
Este acordo, que já deveria ter sido definitivamente aprovado no final do passado ano, contínua a gerar conflitos entre aqueles que o apoiam e aqueles que o acusam de inutilidade e desrespeito. Seja como for, a verdade é que ao longo do passado mês a informação sobre este tema foi diminuindo drasticamente, até não ser mais do que um murmúrio. E se chegou a ser tema de debate nas televisões, é só uma questão de tempo para nos ser anunciado, sem mais nem menos, de que já foi aprovado e que o devemos começar a respeitar. Não fosse a nossa mente tão fugaz, e estaríamos hoje, no mínimo, curiosos como o desenrolar desta história. A avaliar pelos quase 10% de desinteressados na matéria (valor que aumentou, progressivamente, ao longo do mês) este assunto há muito passou a ser maçudo.
Mas chega de sermão sobre o Português, nisso Padre Antó(ô)nio Vieira tem muito mais experiência.
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73.23% | Não. | |
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Bons sermões, por que é vida é feita (também) por eles!