Março 11 2008
Foi no passado dia 6 que o Governo, pela voz do ministro da Presidência, anunciou aos portugueses, à lusofonia e ao mundo a aprovação da ratificação do Acordo ortográfico da língua portuguesa. Fê-lo com uma informalidade que, apesar de toda a obtusidade que marcou este processo (queria, mas o posso chamar democrático), foi ainda capaz de me surpreender.
É verdade que é ainda necessária a aprovação por parte do Parlamento e do Presidente da República, mas, para mim, continua a ser complicado perceber qual o propósito das “audiências” que serão feitas a instituições como a Academia de Ciências de Lisboa ou a Academia Brasileira de Letras (das quais vivalma dúvida do seu empenho na aprovação do Acordo) ou como a SPA e a APEL (que, por mais que esperneiem, já nada podem fazer).
Se havia algo a debater, a esclarecer ou a corrigir, que se debatesse, esclarecesse e corrigisse antes, muito antes do nosso Governo, assim como o do Brasil e dos restantes países, ratificar o documento. Para quê estar agora com subterfúgios e fundamentações se, com um pouco de racionalidade, qualquer um percebe que absolutamente nada pode ser, agora, alterado? Nem as próprias contradições, omissões e instabilidade de critérios que já figuram no Acordo ortográfico desde o seu iluminado começo, há mais de 20 anos, podem ser (vão ser, sejamos honestos) alteradas, pelo menos para já: afinal, não podemos deixar incontestáveis instituições e personalidades letradas sem uma única invenção que altere a vida de milhões de pessoas e deixe os seus nomes e títulos marcados a ferro nas páginas de quem escreve. Deixemos-lhes preparar mais uma ou duas ratificações do Acordo: ficam satisfeitos e nós, quais ovelhas bem ensinadas, deixamo-nos levar, de olhos vendados, por aqueles que decidem por nós.
Nos próximos 6 anos teremos uma dupla ortografia, ou seja, será ainda correcto, juridicamente, escrever no “velho português” do século XX. Penso que os portugueses não precisarão de tanto. Ainda não foi promulgado e já tenho professores que usam (ou tentam usar, de forma errónea e até um pouco por mania) a nova ortografia. Aqueles que conhecem o documento rapidamente quererão dar o seu ar de graça e escrever segundo as novas regras. Os outros, que pouco se importam quanto à forma correcta de escrever em bom português, desculpar-se-ão com um “o português é tramado” e lá se vão adaptando.
De forma a rentabilizar ao máximo a publicidade feita pela imprensa, a Texto Editores publica, já na próxima sexta-feira, dois dicionários e um, digamos, guia de atualização (já sem c) do Português escrito. A isto é que eu chamo rentabilizar as decisões do governo, que o diga João Malaca Casteleiro, um dos principais apoiantes do Acordo e que contribuiu para estas edições.
Contestei este Acordo. Mais uma vez digo que não o acho necessário, correcto ou lógico. Mas agora que está, praticamente, em vigor, para quê continuar a insistir, ou melhor, para quê insistir agora quando nada se fez antes? Não pretendo usar a nova ortografia, pelo menos para já, enquanto não souber exactamente, ponto por ponto, como devo passar a escrever (e haverá alguém que realmente saiba?).
Este não é o discurso de um derrotado. É apenas a opinião de alguém que não consegue passar indiferente a toda a sandice e hipocrisia que marcou o antes, o durante e que possivelmente marcará o depois da aprovação da ratificação do Acordo ortográfico da língua portuguesa.
Será este o fim da saga ortográfica?
Publicado por Fábio J. às 21:34

Olá!
Dá uma olhada nesse link: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/reforma_ortografica/index.shtml
É bem esclarecedor! Ah, é de uma revista brasileira de grande circulação...
Ronni a 12 de Março de 2008 às 20:25

O problema é que há tantas excepções e omissões que se torna mesmo muito difícil perceber como é que determinadas palavras se passam a escrever. No referido artigo tirei já uma dúvida, pois tinham-me dito que "pré-existentes", por exemplo, se passava a escrever "préexstentes", o que me pareceu muitíssimo estúpido. Afinal tinha razão, a grafia mantém-se.
Mesmo assim, estou a ver que terei de comprar um "a(c)tualizador" para escrever correctamente. Mas ainda tenho seis anos... de mal o menos.

Até breve!
Fábio J. a 16 de Março de 2008 às 00:37

Decididamente, vou ter de regressa à primária :D
Agora a sério, fiquei sem perceber o que vão fazer em algumas situações... as editoras vão gastar rios de dinheiro a traduzir as suas obras do "português arcaico" para o "moderno" para as suas futuras edições dos livros já existentes, ou simplesmente vão continuar a imprimir no bom e velho português, acabado de ser colocado no "velhão" para reciclagem? Continuo e continuarei a achar esta reforma idiota. Nunca ninguém sentiu esta necessidade com o inglês ou espanhol... só mesmo os portugueses...

Boas leituras
SkyStorm a 14 de Março de 2008 às 14:25

Idiota parece-me pouco para classificar este acordo, tanto pelo conteúdo como pelo propósito, mas enfim...
Pelos vistos já há quem tenha aproveitado o Acordo para ganhar dinheiro: os novos dicionários da Texto editores é o melhor exemplo. Mas estou curioso quanto a tudo o resto que se terá de fazer, os milhares de livros à venda, os milhões que lemos e guardamos em casa, contudo o mais provável é isto ficar tudo na mesma. Já estou a visualizar, daqui a uns 10 anos alguém se lembrar que, afinal, ninguém implementou o Acordo... é este o nosso país!

Bem, vai-te adaptando. Todos teremos de o fazer, caso não queiramos ser considerados uns retrógrados e analfabetos.
Fábio J. a 17 de Março de 2008 às 23:26

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O autor deste blog não respeita o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa