Nadine Gordimer, galardoada com o Prémio Nobel da Literatura em 1991, nasceu na África de Sul e é autora de mais de 30 obras, muitas delas crónicas sobre o quotidiano e os problemas sociais vividos no seu país durante o regime do apartheid. Um Capricho da Natureza é uma dessas crónicas, se bem que centrada em Hillela e no que a rodeia, como se de uma biografia se tratasse.
Hillela, uma jovem branca sul-africana, foi criada pelas tias maternas. A sua mãe deixou tudo e partiu com um dançarino português, era ela ainda um bebé. O seu pai, vendedor ambulante, tinha a sua própria vida para viver. A protagonista cresceu no seio da família da sua tia Pauline, activista pelos direitos dos negros. No entanto, não a interessavam os problemas sociais do seu país, sendo antes uma rapariga insubordinada e indomável.
Ainda assim, a sua rebeldia sem causa acaba por empurra-la para os meandros da luta contra o apartheid. Afastada da família, Hillela vê-se forçada a entrar no universo clandestino dessa luta, até que é exilada, dando início a um périplo que a fará percorrer a Europa, os EUA e vários países africanos em revolta, em nome da liberdade, da justiça e da vingança...
Quanto comecei a ler esta obra, estava muito longe de imaginar o seu enredo, e mais longe ainda de adivinhar o estilo da autora. A protagonista é uma personagem bastante inconstante, característica que, por si só, não é negativa; contudo, foi-me difícil compreende-la e compreender as suas acções. Pensando bem, talvez este seja o grande mistério da obra: perceber quais são as motivações de Hillela.
Esta espécie de biografia está estrutura como se o narrador (bastante crítico e com os seus inúmeros apartes que tornam a leitura confusa e um pouco monótona) se tivesse baseado em certos rumores, entrevistas e alguma investigação, e por isso nada é certo. Depois de uma grande e, muitas vezes, desinteressante narração, pouco sei sobre a identidade daquela mulher, para além da sua sexualidade magnetizante.
Apesar disso, aquela vida ambulante e a dura realidade africana valem por si só. Esta não é uma leitura fácil ou agradável. É, no entanto, uma leitura marcante, que me fez pensar na loucura dos homens, na sua fragilidade e na minha própria vida, nas minhas próprias opções. E será que isto não faz com que esta leitura tenha valido a pena?
Não gostei particularmente do estilo da autora, nem achei a obra brilhante, a ponto de a recomendar. Contudo, o confronto com a realidade do apartheid e com as personagens que o viveram faz com que não me arrependa de ter lido esta obra.
Um Capricho da Natureza de Nadine Gordimer
Boas Leituras!