Terminei a leitura de Os Homens que Odeiam as Mulheres há mais de um mês, mas a agitação das últimas semanas não me permitiu parar para, ponderadamente, reflectir sobre a obra e escrever sobre ela. Talvez já me tenha esquecido de alguns pormenores, mas o essencial perdura no tempo.
Ora, este livro, do sueco Stieg Larsson, dá início à série Millennium. Devido ao falecimento prematuro do autor, a série conta com, apenas, mais duas narrativas completas, uma já publicada e outra em pré-venda.
Neste primeiro livro deparamo-nos com Mikael Blomkvist, um jornalista de economia condenado a uma pena de prisão, por difamação a um proeminente homem de negócios. Ao longo da obra, o protagonista tenta provar a sua inocência, mas não lhe é fácil lutar contra alguém tão poderoso. Paralelamente, Mikael é contactado por Henrik Vanger, em tempos um dos mais importantes industriais da Suécia, que o encarrega de uma missão incomum: oficialmente, Mikael deve escrever a história da família Vanger, mas na verdade tem de descobrir o que acontecera à sobrinha-neta de Vanger, que desaparecera, misteriosamente, há quase quarenta anos. O jornalista aceita a missão com relutância e, mais tarde, recorre à ajuda de Lisbeth Salander, uma estranha e problemática rapariga, mas também uma hacker de excepção.
À medida que a história se desenvolveu, o meu fascínio cresceu, e posso agora afirmar que esta se trata de uma obra a não perder, mesmo. Blomkvist e, sobretudo, Salander revelaram-se duas personagens admiravelmente bem construídas, modernas e viciantes. Apesar de algumas situações muito pouco vulgares, estas personagens mostraram-se realistas e tornaram-se numa espécie de heróis que prometem surpreender nos volumes seguintes. Mas a qualidade da obra não se justifica apenas por estas personagens. Todo o leque de indivíduos é bastante credível, o que associado à história singular, narrada por quem o mostra saber fazer muito bem, resulta numa obra fascinante.
A investigação de Blomkvist e Salander faz-nos conhecer os meandros da família Vanger, repleta de figuras enigmáticas e histórias obscuras. É ai que nasce a intriga principal da obra, e onde a empolgante acção se desenvolve. A busca pela sobrinha-neta de Vanger é somente o prelúdio de descobertas arrepiantes e, estranhamente, empolgantes. Há muito tempo que não encontrava algo assim, tão denso e simultaneamente tão leve. Penso que é da combinação de uma história complexa com uma narração fluida que advém o prazer desta leitura.
Depois de esclarecido o desaparecimento, o jornalista centra-se na defesa da sua inocência. Nesta parte da obra, é o lado negro dos grandes negócios a ser desvendado. Embora a acção não seja, aqui, tão apaixonante, a narrativa continua a distinguir-se pela positiva.
Por último, volto a destacar a jovem hacker, uma personagem complexa com uma vida espantosa. E se tivermos em conta que muito da sua vida, assim como de outras personagens e vários acontecimentos, se baseia em facto reais, é caso para ficar estarrecido perante as situações com que somos confrontados.
Em suma, trata-se de um muito bom livro. Poderia dizer muito mais, mas não vale a pena tentar caracterizar uma história que não pode deixar de ser lida.
Como já referi, A Rapariga que Sonhava com Uma Lata de Gasolina e Um Fósforo já está disponível em Portugal e A Rainha no Palácio das Correntes de Ar é lançado dia 7 do próximo mês. Os livros têm feito grande sucesso por toda a Europa e este primeiro livro já foi, entretanto, adaptado ao cinema, tendo estado entre os mais vistos, em vários países europeus.
Os Homens que Odeiam as Mulheres de Stieg Larsson
Mário Dias Correia, Oceanos, 2008
Boas Leituras!
P.S.: Espero ter, agora, tempo para me actualizar e responder a todos os comentários e mensagens. Obrigado pela paciência!