Mais uma vez, demorei. Mais uma vez, chega a crítica. Desta vez, uma incursão pela literatura de horror com A Canção de Kali, uma obra premiada com o World Fantasy Award, em 1968, da autoria do norte-americano Dan Simmons.
O protagonista da história é Robert Luczak, um jornalista e escritor americano enviado a Calcutá com o propósito de obter um recente manuscrito do poeta M. Das, que, supostamente, morrera havia dez anos. Com ele, vão a mulher, Amrita, e a filha bebé, Victoria. Desde a chegada àquela cidade indiana, estas personagens são confrontadas com um lugar inesperado, no qual as normas sociais estão para lá do compreensível.
A tarefa revela-se mais complicada do que o previsto. M. Das está envolto em mistério. Há quem diga que foi ressuscitado pela deusa Kali, a Deusa da Morte do Hinduísmo. Para encontrar o poeta, Robert é obrigado a conviver de perto com uma seita que conspira para invocar aquela divindade e que é capaz de tudo para concretizar com os seus intentos. Vive uma série de peripécias nas quais as alucinações se confundem com a realidade, o que contribui para uma narrativa mais intensa e aprazível.
A história não seria a mesma se o cenário fosse outro. Nesta obra, Calcutá revela-se o inferno transformado em cidade, uma cidade selvagem, escura e imunda. As descrições das suas ruas e dos seus habitantes são perturbadoras e é difícil não sentir uma certa náusea perante algumas delas. São descrições fortes que surpreendem pela violência inerente.
Facilmente somos alienados do que nos rodeia, pois a narração está sobejamente bem construída, com pormenores e situações credíveis que nos fazem visualizar o que é contado. Contudo, senti falta de um fio condutor que mantivesse a coesão da história. Pareceu-me não haver uma verdadeira linha de acção. Por um lado, tal facto contribui para o realismo e singularidade do romance, mas, por outro, inviabiliza a compreensão do que está para além do simbólico.
Realidade, fantasia e terror combinam-se harmoniosamente, embora este último tema, apesar de bem explorado e sempre presente, tenha fica aquém das minhas expectativas. Ainda assim, o sangue, a morte e o Mal fazem parte da alma deste romance negro, positivamente invulgar.
A mais recente edição da obra, para além de uma nova capa, conta ainda com prefácio de João Seixas e posfácio de João Barreiros, o tradutor.
Tudo somado, têm disponível um livro singular, com uma narrativa negra e repleto de pormenores absorventes. Ideal para uma noite de Verão.

A Canção de Kali de Dan Simmons




Boas Leituras!