Depois de um livro de fantasia com quase mil páginas, procurei na minha estante um livro mais realista e mais pequeno. Peguei no Como Água para Chocolate, de Laura Esquivel e, embora o livro seja menos volumoso e a história se passe no México do século XX, está polvilhado de elementos fantásticos.
O característico realismo mágico sul-americano associa-se, nesta obra, à culinária, fazendo deste um livro deveras peculiar. Em cada capítulo há uma nova receita, cada uma um novo mote da história, não fosse a confecção e a degustação dos alimentos marcadas por acontecimentos sobrenaturais que muitas vezes condicionam ou balizam as acções das personagens.
A principal é Tita, a mais nova de três irmãs. A tradição consagrou-a ao serviço da família, em especial da mãe, de quem deve cuidar na velhice. Como tal, não deve apaixonar-se e está proibida de se casar. Por isso, quando o seu amado Pedro lhe pede a mão em casamento, tudo se complica. As famílias chegam a um acordo, e Pedro acaba por casar com a irmã mais velha de Tita. Perante tão desesperante situação, a protagonista procura na cozinha um espaço de evasão, executando receitas ou tecendo feitiços, não fossem ambas as coisas tão semelhantes ou até, como nos mostra Tita, duas artes inseparáveis.
A narrativa é apresentada com modo simples e conciso, com tom animado e numa linguagem quase familiar. Tal permite uma eficaz proximidade com as personagens e os acontecimentos. As descrições não são extensas nem particularmente pormenorizadas, mas foi-me muito fácil visualizar o ambiente, em especial a cozinha, onde tanto se passa. Mesmo tendo em conta o género, os fenómenos paranormais conjugam-se muito bem com a acção e geram-se imagens de grande interesse.
No entanto, a descrição das receitas com detalhe enciclopédico quebra o ritmo da narrativa. Embora a culinária seja parte essencial da história, a não ser que se queira passar das palavras à gustação, estas passagens pareceram-me um tanto ou quanto sobre-exploradas.
Para além disso, a personagem principal e o enredo revelaram-se, em determinadas situações, previsíveis e há, em toda obra, algumas situações injustificadas, sobretudo no que toca às personagens secundárias e às poucas histórias paralelas existentes. É verdade que a novela é simples a apresenta elementos do fantástico, mas gostava de ter visto alguns aspectos mais desenvolvidos, sobretudo por curiosidade.
Ao longo da obra assistimos ao crescimento da jovem Tita e à sua luta contra tradições que merecem ser deixadas para trás. O final faz jus à narrativa e ao título, terminando de um modo tão romântico quanto apocalíptico. No fim de contas, a vida e o amor são mesmo assim, uma eterna luta em busca de um final merecido.
Um sucesso internacional de vendas que vale a pena conhecer! Eu já tenho Laura Esquivel e outros autores sul-americanos debaixo de olho…
Como Água para Chocolate de Laura Esquivel
Cristina Rodríguez, Edições ASA (edição Biblioteca Sábado, 2008)
Boas Leituras!