Setembro 20 2010

Há um mundo cuja noite é dominada por criaturas malignas, demónios que se materializam a partir das profundezas da terra mal a luz do sol desvanece. Nesse mundo, o Homem vive durante o dia e esconde-se durante a noite, protegendo-se da morte graças aos símbolos deixados pelos seus antepassados. As guardas mantêm os diversos demónios afastados, abrigando aqueles que as desenham. Porém, há quem não se resigne a viver eternamente preso nesta redoma nocturna, vítima do medo permanente. Este é o mundo de Peter V. Brett, e O Homem Pintado é a sua história.

Arlen, Leesha e Rojer são as personagens principais, três jovens sem habilidades ou poderes extraordinários e com vidas comuns, até que algo os força a quebrarem laços e a tornarem-se mais independentes da família, da sociedade e, por fim, do medo. Inicialmente, as suas histórias são narradas separadamente, mas há medida que as crianças se tornam adultos e desenvolvem as suas capacidades, os seus destinos aproximam-se. Um Mensageiro guerreiro, uma Herbanária e um Bardo, três personagens com um percurso tão cativante que tornam, por si só, a leitura obrigatória.

Devo, efectivamente, começar por debruçar-me sobre estas três personagens, pois este constitui, sem dúvida, o grande triunfo da obra. São, acima de tudo, figuras desconcertantes porque vivem num mundo estagnado, marcado por um marasmo social, e não o aceitam. Neste aspecto, Arlen é fascinante, já que se revolta contra a cobardia do pai e de todos os outros que se resignaram a defender-se dos demónios sem nunca dar luta, nem mesmo por aqueles que amam. Arlen acredita na existência de soluções e, por isso, parte numa demanda épica em busca do conhecimento e das armas que lhe permitam iniciar uma batalha. E não digo épica pelos seus feitos, mas pela sua aprendizagem, pela sua coragem e pela sua determinação. Arlen é um herói desde que vira as costas à protecção que sempre conhecera, e a evolução do seu carácter é a dos grandes homens. Leesha e Rojer também surpreendem, como muitas das restantes personagens que compõem esta história aliás, precisamente por crescerem página após página e, ainda assim, manterem uma coerência invejável. São simples, talvez demasiado lineares, mas penso que isso se deve, sobretudo, à própria acção.

Em contraste com outras obras do género, esta parece-me simples. O enredo não é denso, e a acção desenvolve-se sobre linhas claras. Talvez por isso haja uma grande fluidez, sem monotonias, e seja tão fácil acompanhar toda a história. Mas o facto é que, mesmo com algumas surpresas e momentos inesperados, o sumo da história pode ser exprimido desde as primeiras páginas. Parece-me que tal será diferente nos próximos volumes, mas não posso deixar de o referir.

Para além disso, enquanto lia este livro não pude deixar de pensar em quanto aquele mundo e aquela mitologia fazem sentido. Passo a explicar: é comum nas obras deste género encontrarmos mitologias elaboradas, que estão por trás de civilizações milenares que pouco ou nada evoluem com o tempo, o que, muitas das vezes, não faz sentido nenhum. Porém, em O Homem Pintado, estamos perante um civilização composta por não mais do que algumas aldeias desprotegidas e cidades fortificadas, entre as quais a comunicação, a sua expansão, o seu desenvolvimento e, em última acepção, a sua evolução, são comprometidos por demónios que, todas as noites, são omnipresentes e contra os quais é dificílimo lutar. Ou seja, Peter V. Brett criou uma mitologia simples mas tremendamente eficaz, pois não só serve de base a uma empolgante história épica como se enquadra muito bem no seu mundo. Em suma, um livro óptimo.

Muito mais havia para dizer, mas fico-me por aqui. Espero ler, em breve, A Lança do Deserto, segundo volume desta trilogia, pois estou bastante curioso quanto à evolução desta fantástica história.

Sem dúvida, um livro cativante e envolvente, narrado com clareza e recomendado para todos.

6777

O Homem Pintado de Peter V. Brett

Renato Carreira, Gailivro, 2009

 

Boas Leituras!

Publicado por Fábio J. às 17:52

Boas,

Muito Bom livro, é daqueles livros que quando se acaba de ler, não se consegue olhar para mais nenhum durante uns dias e ficamos a reviver a leitura em cada tempo morto do nosso dia.


A Lança do Deserto, que já saiu também em Portugal , é igualmente bom e deixa-nos a pedir mais.

Cumprimentos,
Telak a 28 de Setembro de 2010 às 14:57

É difícil acreditar que ainda não li A Lança do Deserto, sobretudo porque gostei muito do primeiro livro... Tenho de me corrigir!
Fábio J. a 26 de Dezembro de 2010 às 23:39

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