Junho 26 2007
Este não foi propriamente o melhor início de férias possível. O dia de ontem foi passado no hospital, sendo obrigado a ver programas como Você na TV, As Tardes de Júlia, meia dúzia de novelas brasileiras e o início da Floribella. Quando esta começou tiveram pena de mim e mandaram-me embora. A noite foi mal dormida (será melhor dizer não dormida?) e até agora já devo ter usado suficientes lenços para entrar no Guinness Book. Seja como for, já passou e agora começam realmente as férias.
Não quis partir para esta minha mini aventura e deixar algum título a meio, portanto, acabei este fim-de-semana o incrível A Praia mais Longínqua, o terceiro livro do Ciclo de Terramar. Depois de seguir Gued em O Feiticeiro e a Sombra e em Os Túmulos de Atuan já esperava reencontrar novamente a personagem, no entanto, a maneira como esta surgiu surpreendeu-me bastante.
Nesta história não encontramos um Gued adolescente e revoltado, como no primeiro livro, nem um jovem que cumpre as suas missões, como no segundo. Neste volume, seguimos Gued na derradeira demanda em busca do mal, mal esse que se traduz num desconhecido, algo superior à força de qualquer ser.
Já Arquimago, o maior feiticeiro de toda a Terramar, Gued é interpelado por Arren, um jovem príncipe que dá voz ao desaparecimento de magia e à loucura que se verifica e cresce nas várias ilhas existentes neste mundo fantástico. Percebendo a gravidade da situação, e sabendo que só ele é capaz de descobrir e parar este mal, Gued parte, com Arren, em busca no cerne do problema, do seu causador e da sua resolução, pois só assim será possível salvar Terramar, impedindo que a luz e a magia deste mundo sejam engolidos pelas trevas.
Conduzidos pela inigualável narrativa de Ursula K. Le Guin, os dois protagonistas viajam por diversas ilhas e deparam-se com surpreendentes personagens, cada uma mais marcante e profunda que a anterior. Com o passar do tempo começam a compreender que precisam de agir rápido e que terão de travar uma grande batalha contra alguém poderoso.
Encontros únicos e acontecimentos intensos, sempre banhados por conversas e reflexões perplexizantes decorrem subtilmente, transportando-nos para um mundo irreal mas assustadoramente racional e possível. Nesta aventura as personagens ultrapassam a barreira da vida e vão até à morte, pois só na morte se pode destruir aqueles que na morte estão.
Duma imaginação incomparável, Le Guin transforma as suas metáforas em lições morais e uma simples descrição numa espantosa narração lírica. Vida e morte são o mote principal desta história que flúi pelas páginas duma forma inebriante e nos faz pensar realmente no significado destes conceitos, passando a amar e respeitar tanto o primeiro como o segundo.
Pelo final da história, calculo que esta tenha sido a última narrativa com Gued. Este salvou Terramar, mas para isso esgotou os seus poderes, perdendo o seu estatuto de feiticeiro. Foi uma personagem que adorei conhecer e que, sem dúvida, coloco ao lado de Harry Potter ou Frodo, tanto pela sua personalidade absolutamente incomparável e arrebatadora, como pelo seu simbolismo e importância.
Mais uma vez, uma série que recomendo vivamente!

A Praia mais Longínqua de Ursula K. Le Guin

 

Boas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 23:17

Fevereiro 17 2007

Não costumo ver televisão pois o tempo é usado noutras tarefas, mas tenho por hábito, depois do almoço aos fins-de-semana, debruçar-me um pouco sobre os programas apresentados. A dois: oferece semanalmente uma viagem pelo mundo das artes com o Câmara Clara, exibido na sexta e repetido no Sábado. Por vezes, quando a conversa é interessante, observo a tertúlia, nomeadamente quando o tema é o literário.

Hoje, dentre a grande gama de informação interessante houve uma mais insubmissa: um dos convidados destacou a quase sempre trivial e pouco intensa escrita feminina. Não vou aprofundar nem debater o tema mas sim apresentar uma escritora que destroça esta ideia: Ursula Le Guin.

Acabei ontem de ler Os Túmulos de Atuan e, embora o tenha feito duma forma demasiadamente lenta e fragmentada, não deixei de me sentir preso à história, ansioso e simultaneamente receoso de a viver. Tal como em O Feiticeiro e a Sombra, esta autora demonstrou a profundidade das suas palavras, a beleza das suas mensagens metafóricas e o poder das suas personagens.

Nesta história caminhamos com Tenar, uma criança que cedo é separada da sua família e da sua identidade e entregue Àqueles-que-não-têm-nome, ou seja, às forças obscuras dos Túmulos de Atuan. Sendo Arha, a sempre renascida Grã-Sacerdotisa, tem como missão cuidar dos Túmulos e prestar-lhes culto, até à morte do seu corpo. A sua vida não tem mais nenhum propósito para além deste, e Arha cresce querendo apenas servir os seus senhores. Até que um dia percebe que a sua fé é apenas isso, fé, e não o seu destino.

Tentando recuperar a metade à muito perdida do famoso Anel de Erreth-Akbe, Gued, o já conhecido jovem feiticeiro, desloca-se até aos Túmulos e cruza-se com Tenar: o destino desta mudara. Usando toda a sua prepotência socializa com o feiticeiro e percebe que existe uma vasto mundo para além do que ela conhece: um mundo livre.

Intenso e profundo, este é um livro duma beleza extrema. A apresentação do verdadeiro e intenso sentido da liberdade é um ponto forte, mas a coragem e a narração duma fé falsa e absurda também conseguem espantar.

Um segundo volume original e criativo que vem dar mais credibilidade a este intrigante Ciclo de Terramar. Resta-me continuar a ler a saga e assim aventurar-me por mais histórias magníficas.

Os Túmulos de Atuan de Ursula K. Le Guin

Bom fim-de-semana e Carnaval e, claro, Boas e Fantásticas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 21:25

Dezembro 06 2006

Hoje, enquanto estava na paragem a esperar pelo autocarro, depois dum dia de aulas cansativo, eis que reparo num jovem que estava a ler sentado no banco da mesma. Olhei para o livro para tentar visualizar o seu título, mas como o referido jovem estava a lê-lo, mantendo-o aberto, não consegui perceber de qual se tratava. Associei a dois que conheço por capa, mas como não tinha confirmação a minha curiosidade foi, estranhamente, crescendo, e cheguei ao ponto de me inclinar para tentar ver a capa e até, certa vez quando o rapaz tinha o livro semi-fechado, a ir deitar uma pastilha elástica ao lixo para me aproximar mais. Mesmo assim não consegui obter uma confirmação, e ainda agora me sinto curioso por saber de que obra se tratava.

Sei que esta história pode parecer estranha, mas talvez exista explicação. A primeira é que suspeitava ser um livro pelo qual me interesso, mas talvez o facto de não ter, neste momento, nada novo para ler, me tenha aumentado substancialmente a curiosidade.

Ontem acabei de ler O Feiticeiro e a Sombra, de Ursula K. Le Guin, uma obra com poucas páginas mas digna do uso do adjectivo “grande”. É uma obra comparada, por críticos literários, às Crónicas de Narnia ou a O Senhor dos Anéis, mas arriscaria dizer que não tem, de todo, nada a ver, não por ser de menor qualidade, mas pura e simplesmente por ser um livro único, bastante imaginativo e carregado de profundas e tocantes palavras. É daquelas obras onde facilmente encontramos frases dignas de citações e de moldura, frases que precisamos ler duas, três, quatro vezes, simplesmente porque são fantásticas.

Quem já leu Harry Potter ou Eragon vai encontrar alguns termos e definições que se encaixam, mas, não esquecendo que este livro foi escrito nos finais da década de 60, mesmo assim, não irá encontrar qualquer facto que pareça repetitivo ou sem a beleza da primeira vez.

É um livro tocante, ou até, para dizer melhor, chocante, pois a certa altura foi-me difícil perceber se Gued, o nome do herói da história, era um exemplo a seguir, alguém ligado ao bem, ou alguém que transmite todos os males que um ser humano pode ter. Com o desenvolver da história vamos encontrando resposta para todos estes porquês, e embora a história pareça sem rumo, a verdade é que continua, sempre, a caminhar para um marcante final, digno, ou muito melhor, de qualquer clássico do fantástico.

Pode não ter sido o melhor livro da minha vida, mas mesmo assim não o vou esquecer, e quero continuar a ler a tetralogia e ver por que lado de Terramar andará Gued, o poderoso e estranho feiticeiro.

Se poderem, não percam este pequeno grandioso livro.

O Feiticeiro e a Sombra - Ursula K. Le Guin

Até breve e Boas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 21:42

Novembro 29 2006

Como não há algum tempo referi, estava a acabar de ler O Silmarillion; estava porque já o acabei de ler ontem à noite. Achei a última história tão “deliciosa” que não me contive até a acabar de ler. Esta, Dos Anéis do Poder e da Terceira Era, relata exactamente isso, a origens dos Anéis do poder e o fim da Terceira Era, o que acaba por se traduzir numa introdução e num pequeno resumo à trilogia O Senhor dos Anéis. Gostei de conhecer uma pouco mais da história de Gandalf e do contesto em que este começa a fazer parte da história. Confesso que me agitei quando li um diálogo entre Gandalf e Elrond, um dos primeiros a abrir o filme A Irmandade do Anel, pois “senti” a ligação com o filme e a trilogia, para além de achar as palavras de Gandalf sapientíssimas.

Fazendo a minha sinopse do livro, posso dizer (sem querer ser repetitivo) que nele nos é narrada a história de Arda desde a sua origem (ou até antes dela) até à passagem para a 4ª Era, a mesma que nos é retratada em O Senhor dos Anéis. A descrição de todos os factos é um sopro de genial realismo que nos transporta para a acção e nos faz crer, tal como crianças, que tudo aquilo é verdadeiro.

Nada escapa ao autor e por isso é-nos possível visualizar um mundo completo e profundo, repleto de magia em cada rio, a transpirar paz em cada estrela, com uma alma em cada floresta, mas também com grandes demónios em cada sombra. Neste mundo o tempo não pára, e quanto mais perfeitos os seres se vão tornando mais próximos ficam da imperfeição e destruição.

Tudo é imensamente intenso na história, seja um amor ou uma maldição, uma guerra ou um laço de sangue, e não há tempo que pague estas marcas, pois o próprio mundo muda e adapta-se com a ira dos deuses ou a força das guerras.

É uma história completa mas que pede, no entanto, para ser continuada nas seguintes obras do autor. Foi o primeiro livro de Tolkien que li, no entanto é já um dos que mais me tocou, não pelo sentimentalismo que tem, mas pela força e profundidade das palavras.

Mais uma vez recomendo a leitura deste livro, não só aos amantes do fantástico ou já leitores de Tolkien, mas a todos quantos estejam interessados a ser marcados por este mundo, pois tal como dizia um certo crítico “a leitura encontra-se dividida em duas partes: a daqueles que já leram O Senhor dos Anéis e aquelas que o vão ler”, mas podemos considerar que esta máxima se estende a outras obras do “mestre” como O Silmarillion.

Um livro fantástico!

O Silmarillion - J.R.R. Tolkien

P.S.: Vou começar hoje a ler O Feiticeiro e a Sombra, que sendo uma obra que pouco conheço será uma total surpresa.

Até breve e Boas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 18:13

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