Agosto 21 2010

Seria normal pensar que, depois de cinco volumes, As Crónicas de Gelo e de Fogo perdessem alguma da sua sagacidade. Porém, em A Glória dos Traidores, George R. R. Martin volta a usar os seus velhos e bons truques para desenvolver o seu enredo poderoso e, mais uma vez, o resultado é arrebatador. Apesar disso, volto a perguntar-me se entre a habilidade e criatividade do autor não existe um dramatismo crónico que, não raramente, o salva da monotonia, de outra forma, quase certa. Mas, seja como for, gostei imenso do que li.

A par com A Tormenta de Espadas, este volume constitui o terceiro livro desta série na versão original, A Storm of Swords, e nele são narradas cenas entusiasmantes e surpreendentes, no melhor do autor. Tentar aqui resumir esses episódios não faz muito sentido, devido às múltiplas perspectivas dadas pelas personagens e ao enredo complexo, mas vale a pena realçar o velho jogo de poderes que anima esta obra, com as suas lutas entre exércitos, alianças, inimizades, traições e, claro, mortes. No entanto, neste livro houve outro aspecto a captar a meu interesse: os elementos fantásticos, e não apenas os estranhos homens gelados “mortos-vivos”, os Outros. Também os gigantes, os mamutes e as restantes figuras do norte gelado me fizeram ansiar pelos capítulos aí passados. Quem leu sabe a que me refiro, quem ainda não o fez está a perder algo singular.

Mas prestando maior atenção a este volume, não posso também deixar de destacar o confluir de histórias que nele se observa. Uma das mais claras particularidades desta série relaciona-se com o alternar de pontos de vista e linhas de desenvolvimento da acção, o que lhe confere uma dinâmica única. Porém, neste volume, essas linhas, até então paralelas, cruzam-se mais do que nunca, e mal posso espera para saber o que daí resultará.

Estou também curioso em relação à próxima vítima de GRRM, ou seja, ao próximo herói a ser morto (um termo, aparentemente, não definitivo) quando menos se espera. Eu diria que o desaparecer de personagens tem vindo a tornar-se um arquétipo da série, mas resulta e, embora nem sempre me agrade, espero pelo que se seguirá. Neste volume perde-se (?) uma das vozes conscientes da obra, não necessariamente boa nem má, mas daquelas personagens com valores e princípios (pouco) subornáveis. Foi inesperado, mas é um exemplo de como Martin manipula magistralmente a sua história.

Trata-se, em suma, dum dos meus volumes preferidos, e não apenas pelo drama (que, confesso, tem sempre o seu encanto) mas, sobretudo, pela acção dinâmica e em constante mutação que desafia a imaginação e o bom senso. Um bom prenúncio do que ai vem.

A Glória dos Traidores de George R. R. Martin

Jorge Candeias, Saída de Emergência, 2008

Boas Leituras!

Publicado por Fábio J. às 20:12

Outubro 31 2008
Na descrição deste blog pode ler-se: “Ler é o maior pilar na construção de uma personalidade.” Escrevi a epígrafe há já algum tempo, era este espaço bastante diferente do que é agora mas, provavelmente, não tão diferente como eu era do que agora sou. É que, sem sentimentalismos, eu mudei e sei que parte da mudança resultou do que li. E como tudo, há o outro lado da questão: a forma como leio também mudou. Isto para dizer que a forma como interpreto e aprecio um livro hoje é diferente da forma como interpretei e apreciei um livro ontem.
Neste sentido, posso afirmar que, apesar da qualidade inegável da obra, não senti em O Despertar da Magia, de George R. R. Martin, a surpresa e esplendor que encontrei nos volumes precedentes. Faça-se justiça à obra: é fantástica! Contudo, estava à espera de (ainda) mais.
Este é o quarto volume d’As Crónicas de Gelo e de Fogo, em português, e a segunda parte da obra A Clash of Kings, na versão original. Neste livro, muito do que se preparou em A Fúria dos Reis é concretizado, reafirmando a mestria do autor, criador e contador incomparável.
Nos Sete Reinos, a luta pelo poder torna-se cada vez mais sangrenta. Os exércitos, liderados pelos seus respectivos reis, põem-se em marcha, prontos para lutar até à morte. A força bruta mistura-se com as intrigas, a traição e a magia. Tudo é válido porque, no fim, só os mais fortes e astuciosos vencerão. Mais uma vez, é com as intrigas e conspirações que o autor mais me fascina. No mundo de GRRM, subestimar o inimigo pode ser fatal.
A multiplicidade de perspectivas e situações apresentadas voltaram a deslumbrar-me. Ora estamos dentro de um fortificado castelo, ouvindo-se já os passos do exército inimigo, ora estamos numa floresta gelada, a lutar pela vida, ou numa cidade exótica e perigosa, rodeados por ardilosos inimigos.
Personagens vibrantes dão vida a uma história assombrosa, repleta de momentos cruéis, angustiantes e heróicos, narrada com um ritmo e perspicácia admiráveis. Tal como acima disse, esperava algo ainda mais sagaz e surpreendente, melhor do que os volumes anteriores. No entanto, não fiquei, de todo, desiludido. Melhor do que excelente é difícil, e este livro, assim como toda a série, é excelente.
O Despertar da Magia de George R. R. Martin
Boas Leituras!
Publicado por Fábio J. às 21:38

Abril 05 2008
É já na próxima segunda-feira que académicos, políticos, escritores, editores e outros intelectuais vão encontrar-se, na Assembleia da República, para debater o polémico Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Por esta altura, instituições que se opõem a este Acordo, como a Apel (que apresenta um estudo), dão o seu tudo por tudo para tentarem travar a ratificação que implementará o documento em Portugal. O pior mesmo é saber que não adiantará debater, afinal estamos em Portugal...
Escrito no bom (e actual) português está A Fúria dos Reis, o terceiro volume d’As Crónicas de Gelo e de Fogo, de George R. R. Martin, que recentemente terminei.
Antes de mais, é importante não esquecer que, na versão original, esta é a primeira parte do segundo livro, facto essencial na compreensão da obra já que muito da intriga principal não chega a desabrochar neste volume. Talvez por isso, a sua leitura foi ligeiramente menos entusiasmante do que a dos precedentes, muito embora continue agradável, viciante e marcada pela excelência.
Neste volume, o brilho de um cometa vermelho que paira nos céus serve de impulso a muitas das atitudes tomadas pelas personagens. Tal presença causa medo, e muitos são aqueles que sabem usar esse medo para manipular e desenvolver os seus intentos. Seja na guerra, na religião ou nas intrigas, o cometa mostra-se decisivo, de tal forma que é referido na grande maioria dos capítulos, por muitas das diferentes personagens.
É, então, neste clima de mudança e precipitação que muito se decide e se prepara. Exércitos marcham, traições são tecidas e magia é desperta, num jogo de tronos no qual há lugar apenas para um rei. Contudo, tudo é introdução, e poucas são as histórias com conclusão... mas quando as há não podiam ser mais surpreendentes e extraordinárias.
A realçar está também a assombrosa capacidade do autor de desenvolver sociedades. Umas tão semelhantes à nossa, à real, que me perturbaram, e outras tão exóticas e maravilhosas que me fascinaram. As cidades, as religiões, as tradições, as relações amorosas e de amizade, enfim, são vários factores que fazem desta uma obra única e indispensável a qualquer apreciador de fantasia.
Resta-me, assim, esperar pelo próximo volume, O Despertar da Magia, que será publicado já em Maio e que promete desvendar muito do que fica por explicar e, claro, continuar a encantar aqueles que já se deixaram prender por esta teia de mistério e intriga.

 A Fúria dos reis de George R. R. Martin
 
 Boas leituras!
Publicado por Fábio J. às 23:54

Fevereiro 10 2008
O tempo tem sido realmente muito pouco, de modo que actualizar o blog e responder a comentários e mensagens tem sido complicado. De qualquer forma, e como sempre, as leituras continuam, já que sem elas o dia perderia um pouco do seu brilho.
Há sempre tanto para ler! Amanhã, por exemplo, é lançado A Fúria dos Reis, o terceiro livro d’As Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, de quem já sou um fã declarado. E este meu fascínio deve-se ao grande prazer proporcionado pelos dois volumes precedentes, nomeadamente A Muralha de Gelo, a qual recentemente terminei.
Na versão original, este dois primeiros volumes eram um só livro, no entanto, diria que existe um clara mudança, quase como uma pausa, no final do primeiro volume, com um clímax melhor do que o apresentado por muitos outros livros. A própria narrativa flúi de uma outra maneira, talvez por já conhecermos as personagens e as intrigas mas, principalmente e a meu ver, pelas intrigas se transformarem em guerra e o mistério se transformar em medo.
As personagens, já conhecidas do leitor, revelam o seu verdadeiro carácter e tudo aquilo que valem. Confrontadas com situações inesperadas e cruéis, elas surpreendem pelas suas acções e senso, constituindo a base desta incrível história. O autor usa-as magistralmente, subjugando-as a condições arrepiantes, chocantes, tristes e enervantes, criando no seu interlocutor um intenso e constante turbilhão de sensações.
Como acima antevi, neste volume a intriga torna-se mais clara e directa, e os acontecimentos, que anteriormente eram manipulados na penumbra pelos senhores da corte, tornaram-se agora em verdadeiras guerras, desde logo um outro factor apelativo.
E se isto remete para os confrontos bélicos da Idade Média, paralelamente a fantasia surge no seu melhor, fazendo antever uma narrativa ainda mais interessante e criativa. O medo como que se materializa, e os homens vão necessitar de toda a sua coragem para o superar e tentar vencer. E neste ponto GRRM parece ser, desde já, único e promissor.
As reviravoltas são a prova de uma imensa originalidade. Se num momento depositamos todas as nossas expectativas e fé numa personagem, no seguinte somos confrontados com a sua traição ou morte. Se pensamos que somos capazes que prever o que acontecerá a seguir, logo o autor destruiu tudo o que imaginamos... e cria algo incrivelmente superior e surpreendente.
Directo mas muito complexo e envolvente, o enredo é perfeito e comprova, mais um vez, que estamos perante uma história com muito para oferecer e para qualquer tipo de leitor.
A meu ver, este é, sem dúvida, um enredo que ficará para a História pela sua qualidade e originalidade. A continuação, ou a leitura para quem ainda não começou, é obrigatória.
Stark, Lannister, Targaryen, Baratheon... Vale a pena conhecer este e todos os outros nomes que constituem este universo único.

A Muralha de Gelo de George R. R. Martin

Boa semana e Boas Leituras!
Publicado por Fábio J. às 23:42

Novembro 24 2007
Há já alguns dias tentava publicar sobre determinados assuntos, mas a sempre presente falta de tempo não o permitiu. Tentarei ainda este fim-de-semana publicar sobre algo que me anda a chocar, mas não agora, não neste post que trata dum tema muito mais agradável.
Se bem se lembram, há algum tempo atrás escrevi, aqui, sobre o lançamento do primeiro livro d’As Crónicas de Gelo e Fogo e as promoções em torno dele. Achei-as realmente boas, e como todos nós sabemos a literatura não é um produto dado (nem propriamente barato), portanto, aproveitei e adquiri o primeiro livro.
A editora usou as tradicionais críticas (positivas) feitas por vários jornais, sites e até escritores para promover a obra, chegando mesmo a colocá-las na sua capa. E com frases como “a melhor fantasia dos últimos 50 anos” na capa, as expectativas tornaram-se elevadas. Pois bem, não poderei confirmar a veracidade da frase, porque não sou especialista, mas nem por um momento A Guerra dos Tronos me desiludiu, muito pelo contrário.
Apesar da série ser classificada como de fantasia, neste primeiro livro George R. R. Martin não a apresenta nem a usa; faz apenas algumas sugestões, através de alguns deslumbres que fazem antever elementos do fantástico. Neste livro encontramos uma verdadeira teia de intrigas e conspirações em torno dum trono e do poder, de tal forma que quase o poderíamos classificar como um “romance histórico não baseado na realidade”, embora altamente realístico.
Desde logo o autor marca a diferença: os capítulos, ao invés de numerados ou titulados de acordo com a narrativa, apresentam o nome duma personagem, personagem essa que passa a ser como que o protagonista da narrativa. Mas não se pense que isto a torna confusa: desta forma, a história é-nos apresentada sob várias perspectivas e a narrativa torna-se dinâmica e atractiva.
A história passa-se nos Sete Reinos, uma terra unida pela guerra, durante uma frágil paz conseguida à custa dum regicídio que acabou com uma antiga dinastia. Mas a ambição pelo poder é grande e há quem esteja disposto a muito para o alcançar. Quando a Mão de Rei é assassinada, Eddard Stark, protector do Norte, é convidado pelo próprio rei a assumir o prestigiado cargo. Aceita-o, pois desconfia ter sido a própria rainha a envenenar o antigo detentor do cargo. É então que se coloca a si e a toda a sua família em perigo.
Enquanto isso, do outro lado do mar estreito, os descendestes da antiga dinastia começam a reunir forças, preparando o seu regresso.
Sem divagações mas com uma pormenorização arrebatadora, desde logo a narrativa prende o leitor, fazendo-o extasiar face à complexa acção que cruza personagens bem construídas, numa acção muito bem orientada, com um discurso muitíssimo apropriado e coerente.
George R. R. Martin mostra-se um “senhor escritor”, um mestre, autor duma genial obra criativa que está longe de qualquer cliché e influência. Sem rodeios mata uma personagem, ou duas ou sejam quantas tiverem de ser. O que importa é surpreender, chocar, arrebatar, e isso ele fá-lo como ninguém.
Tão soberbamente construída, a história leva-nos com ela e em menos de nada acabou. O fim é de cortar a respiração, quase desesperante, e o excerto d’A Muralha de Gelo, o próximo volume, aumenta ainda mais a ansiedade. Sem dúvida alguma, um dos enredos mais bem construídos e viciantes que já li. A continuação da série é obrigatória.
Recomendo a toda a qualquer pessoa. E já agora, mal posso esperar para ver a adaptação televisiva que está a ser produzida pela HBO...

A Guerra dos Tronos de George R. R. Martin

Bom fim-de semana e Boas Leituras!

Publicado por Fábio J. às 22:42

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O autor deste blog não respeita o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa