O livro A Sacerdotiza dos Penhascos é o sexto volume da Saga das Pedras Mágicas, uma série de fantasia criada pela portuguesa Sandra Carvalho. Tendo lido os volumes precedentes, já conhecia o contexto da história: magia, batalhas, profecias, amores impossíveis e um universo alternativo no qual uma sociedade medieval sob influência religiosa convive com vikings, vândalos, feiticeiros, elfos, seres mágicos e monstros. Nem sempre todos estes elementos se conjugaram do modo mais harmonioso e, no entanto, parece-me inegável que, livro após livro, a intriga manteve-se consistente.
A abordagem da autora e o desenvolvimento do enredo têm variado ao longo dos títulos, mas é clara a importância atribuída à componente sentimental das personagens. Diria que, umas vezes, há drama mais. Outras, o tom é perfeito. Gostos à parte, Sandra Carvalho diferenciou-se com as histórias de amor e com a dinâmica emocional das personagens. A mais recente publicação da série é fiel a esse estilo. Ainda assim, a meu ver, mostra-se mais sóbria do que algumas das precedentes, em reflexo da maturidade artística da autora, da solidez adquirida pela saga enquanto universo criativo e, sobretudo, graças às personagens.
Kelda, a protagonista deste volume, é a típica jovem incapaz de corresponder às expectativas dos que a rodeiam, pelo menos tão típica quanto uma filha de grandes feiticeiros pode ser. Nasceu no seio de uma família em que todos têm poderes, mas não manifesta qualquer força sobrenatural. Essa condição molda-a e diferencia-a das protagonistas anteriores. Aliás, o seu percurso acrescentou algo novo e refrescante à série. Já não é dada tanta atenção à trama familiar, destacando-se antes a séria dedicação à protagonista e ao seu crescimento. O leque de personagens também é mais restito, embora diversificado, e penso que tal se traduziu numa história mais consistente e fácil de acompanhar.
A sempre referida narrativa em primeira pessoa funciona muitíssimo bem neste volume, um pouco como os volumes iniciais. Sem levar à perda das informações necessárias à compreensão da história, a voz da protagonista permite-nos conhece-la, aos seus sentimentos, aos seus medos e à sua tenaz determinação.
Acaba por ser um livro sobre isso: determinação e sacrifício; sobre a luta incessante por aquilo em que se acredita, mesmo que não se tenha as ferramentas necessárias, ninguém nos apoie e as probabilidades de vencer sejam ínfimas.
Não é o melhor que o fantástico tem para oferecer, mas é singular no modo como conjuga elementos de fantasia épica, por vezes negra, com os sentimentos efervescentes, mas intensos, de uma rapariga que se torna mulher. Não é literatura para meninas. Não é uma patranhada. Não é uma série de coisas, feliz e infelizmente. É uma história escrita com paixão, ecléctica e cativante. Tem o seu quê de excesso é certo, devido ao ocasional arrebatamento dramático das personagens e, diria eu, da autora. Mas seja o que for, agradou-me e lamentei termina-la.
E uma coisa é certa: os leitores da saga não podem deixar de notar a evolução do estilo e da narrativa presentes neste livro. É uma boa razão para não perder o sétimo e (aparentemente) último volume da série que, segundo os rumores, será lançado antes do próximo Verão.
A Sacerdotiza dos Penhascos de Sandra Carvalho
Editorial Presença, 2009
Links: Sinopse (editora) | Site da autora
Até Breve!
P.S.: Depois de vários meses ausente, a ver se é desta que volto à rede.