Definir cultura pode não ser uma tarefa fácil, e certamente todos o fazemos com palavras diferentes, de acordo com as perspectivas e habilidades de cada um. Mas há certas ópticas, no mínimo, discutíveis.
Ontem, os deputados Vicente Jorge Silva (PS) e Paulo Mota Pinto (PSD) participaram no Frente-a-Frente, do Jornal das 9, na SIC Notícias. Parte da discussão decorreu em torno da morte de José Saramago e da ausência do Presidente da República nas cerimónias fúnebres.
A certa altura, discutia-se a valorização da cultura pelo PR, e Mário Crespo interpelou o deputado social-democrata sobre o seu hipotético modo de agir, perante um “momento irrepetível [na cultura portuguesa] – é pouco provável que tenhamos um prémio Nobel da Literatura novamente”. A resposta deixou-me boquiaberto: “Há compromissos (…) Para já, [esse tipo de afirmações] partem de um conceito muito limitado de cultura: até parece que a economia e as finanças não são cultura também!”
Embora, no sentido mais abrangente possível, toda a acção humana possa ser vista como expressão “da cultura humana”, querer juntar a economia e as finanças, doentias como são em Portugal, às expressões culturais que lutam para se manterem à tona neste país à beira mar plantado é, no mínimo, acto censurável e idiota.
Já nos chegam os cabeçalhos de jornais e a constatação diária. Fazer uma afirmação daquelas, no momento em que perdemos uma das maiores figuras da cultura nacional, é lamentável e reflecte bem o longo caminho que a sociedade e a política portuguesa ainda têm de percorrer.