Novembro 08 2007
Desde as últimas semanas, o mercado editorial tem estado no seu período mais activo com vários lançamentos em destaque, fazendo desta época uma altura propícia à leitura de novos livros. Mas não só os lançamentos fazem desta época o ponto alto de venda e debate de livros e literatura. Começou hoje o Fórum Fantástico 2007, em Lisboa, uma iniciativa que pretende promover e incentivar a leitura de literatura especulativa em Portugal, contando com uma série de debates e palestras sobre o género, bem como lançamentos literários enquadrados nesta temática.
Este é, sem dúvida, um dos géneros literários que mais me agrada e aquele que mais leio. As razões para este interesse são várias, mas o propósito do post é outro, embora intimamente relacionado: um bom exemplo da qualidade deste género literário é o Ciclo de Terramar, de Ursula K. Le Guin.
Era já de madrugada quando acabei Num Vento Diferente, um dos melhores livros (senão o melhor) que li até hoje e aquele com, muito provavelmente, o melhor final, atendendo também ao facto deste ser a conclusão da referida série.
Quando há perto de um ano me deparei com este livro, estava longe de imaginar o quanto toda a série me fascinaria. Publicado no início deste século, mas dependente dum Ciclo iniciado em 1968, o livro exigia a leitura dos quatro antecedentes. Neles conheci as personagens, os locais, as culturas e as mentalidades de Terramar. Neste livro, já com todos esses conhecimentos, surpreendi-me quando a autora fez o que parecia impossível: criou algo ainda melhor, o melhor, revolucionando a essência de tudo aquilo que até então havia apresentado.
Depois dos acontecimentos do último volume, algo continuou a acontecer em Terramar, algo que nem os mais poderosos feiticeiros ou sacerdotes puderam prever e, mais tarde, solucionar. Nesta série, a principal temática é, abstractamente, a Vida e a Morte.
Neste livro tudo começa quando Amieiro, um humilde bruxo com a capacidade de consertar coisas, começa a ser levado, em sonhos, até à terra árida, à terra onde as estrelas não se movem e não há luz nem vento, à terra dos mortos. A sua falecida mulher, assim como todas as outras almas, suplicam-lhe para que as liberte, que lhes permita e ajude a ultrapassar o muro que divide a terra dos mortos da terra dos vivos.
É então que as personagens e os povos, incluindo os dragões, se reúnem, guiados pelo destino e pelas forças da terra. O Homem, na sua audácia, pôs em risco a sua maior dádiva, a morte, e só com muito esforço e sacrifício a poderá recuperar.
Orientada pela a mestria inigualável de Le Guin, neste livro a verdadeira essência do Ciclo, assim como a essência da vida, é posta à prova, fazendo-me sentir completamente arrebatado pelo enredo, completamente rendido a toda a sua beleza.
Está é, sem dúvida, uma incrível história, não me sendo possível fazer jus a toda a sua qualidade. Gued, Tenar, Tehanu, Lebánnen e Amieiro, estas são algumas das personagens que dificilmente esquecerei.
Excelente, profunda, inigualável...
O melhor final possível para esta incrível série.

Num Vento Diferente de Ursula K. Le Guin

Fantásticas Leituras!
Publicado por Fábio J. às 22:28

Agosto 27 2007
Já alguma vez foram julgados pelo que sofreram sem ser dada importância ao que fizeram, seja isso bom ou mau? Por algum instante, sentiram que existe um vazio dentro de vós maior do que aquilo que o vosso ser preenche? Em algum momento abdicaram de tudo o que o destino vos ofereceu para procurar liberdade?
Estas são algumas das questões que inquietam os três principais personagens da quarta obra do Ciclo de Terramar, Tehanu – O Nome da Estrela.
Quando acabei o livro anterior, julguei estar a despedir-me definitivamente das fantásticas personagens que havia encontrado até li, nesta série. Por esta razão, fiquei realmente contente quando li pela primeira vez a sinopse deste novo livro, já que não só Gued, o principal herói, continua a fazer parte do enredo, como Tenar e Arren reaparecem, trazendo à memória antigos cenários e aventuras. Contudo, este livro acrescenta muito de novo a este mundo.
Pela primeira vez, uma obra da série começa onde a anterior terminou. Quando Gued, em A Praia Mais Longínqua, cumpriu a sua missão, acabando por perder os seus poderes, partiu para a sua terra natal, afim de viver lá até que a morte viesse buscar o seu corpo. É aqui que esta história começa, mas com outras personagens.
Tenar, antiga sacerdotisa de Atuan, é agora uma viúva que vive a sua vida como qualquer outra mulher, como desejou. No entanto, a sua vida muda quando uma criança, violentada e maltratada pelos pais, é encontrada, meia morta e a arder, perto da aldeia. De imediato, Tenar toma responsabilidade sobre ela, e passa a chamar-lhe Therru, fogo na sua língua materna. Mas esta não é uma criança como as outras: desfigurada pelo fogo e traumatizada pelo tormento por que passou, a criança é ainda descriminada pelo que se sucedeu, pois “cada um tem culpa pelo que é”.
Vindo da praia mais longínqua montado num dragão, Gued encontra mulher e criança, e é então que a acção se desenvolve. Desta vez, a magia parece passar despercebida, com pouca importância, mas a verdade é que a magia vive dentro das personagens, fazendo parte delas, sendo ou não manifestada.
Embora não pareça ser o principal mote da história, nesta obra as raízes das trevas do livro anterior mostram poderem ser ainda maiores que o próprio tronco. Contudo, no final, quando o lado selvagem e o lado humano de Therru, a estranha menina, se fundem, todas as sombras se apagam sobre a luz do fogo que arde nela.
Therru revela-se mais uma personagem incrível, daquelas que nos maravilha e entristece, Tenar volta a deslumbrar e a prender o leitor, e Gued, que já não parece sábio e poderoso, mostra como a vida pode sempre recomeçar. No fundo, é mais uma grande obra de Ursula K. Le Guin, que volta a primar pela originalidade e beleza.
Ao fim duma página já sorria de contentamento ou nostalgia, não sei bem, pois afinal, em Terramar, todos os sentimentos se fundem como as gotas num grande mar. As emoções, são como ilhas selvagens...
Não vou arriscar se é desta que as personagens se despendem ou não, mas acredito, devido a uma simples frase, que Therru e restante personagem voltarão... felizmente!
Uma série recomendadíssima!

Tehanu – O Nome da Estrela de Ursula K. Le Guin

Até Breve e Boas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 23:41

Junho 26 2007
Este não foi propriamente o melhor início de férias possível. O dia de ontem foi passado no hospital, sendo obrigado a ver programas como Você na TV, As Tardes de Júlia, meia dúzia de novelas brasileiras e o início da Floribella. Quando esta começou tiveram pena de mim e mandaram-me embora. A noite foi mal dormida (será melhor dizer não dormida?) e até agora já devo ter usado suficientes lenços para entrar no Guinness Book. Seja como for, já passou e agora começam realmente as férias.
Não quis partir para esta minha mini aventura e deixar algum título a meio, portanto, acabei este fim-de-semana o incrível A Praia mais Longínqua, o terceiro livro do Ciclo de Terramar. Depois de seguir Gued em O Feiticeiro e a Sombra e em Os Túmulos de Atuan já esperava reencontrar novamente a personagem, no entanto, a maneira como esta surgiu surpreendeu-me bastante.
Nesta história não encontramos um Gued adolescente e revoltado, como no primeiro livro, nem um jovem que cumpre as suas missões, como no segundo. Neste volume, seguimos Gued na derradeira demanda em busca do mal, mal esse que se traduz num desconhecido, algo superior à força de qualquer ser.
Já Arquimago, o maior feiticeiro de toda a Terramar, Gued é interpelado por Arren, um jovem príncipe que dá voz ao desaparecimento de magia e à loucura que se verifica e cresce nas várias ilhas existentes neste mundo fantástico. Percebendo a gravidade da situação, e sabendo que só ele é capaz de descobrir e parar este mal, Gued parte, com Arren, em busca no cerne do problema, do seu causador e da sua resolução, pois só assim será possível salvar Terramar, impedindo que a luz e a magia deste mundo sejam engolidos pelas trevas.
Conduzidos pela inigualável narrativa de Ursula K. Le Guin, os dois protagonistas viajam por diversas ilhas e deparam-se com surpreendentes personagens, cada uma mais marcante e profunda que a anterior. Com o passar do tempo começam a compreender que precisam de agir rápido e que terão de travar uma grande batalha contra alguém poderoso.
Encontros únicos e acontecimentos intensos, sempre banhados por conversas e reflexões perplexizantes decorrem subtilmente, transportando-nos para um mundo irreal mas assustadoramente racional e possível. Nesta aventura as personagens ultrapassam a barreira da vida e vão até à morte, pois só na morte se pode destruir aqueles que na morte estão.
Duma imaginação incomparável, Le Guin transforma as suas metáforas em lições morais e uma simples descrição numa espantosa narração lírica. Vida e morte são o mote principal desta história que flúi pelas páginas duma forma inebriante e nos faz pensar realmente no significado destes conceitos, passando a amar e respeitar tanto o primeiro como o segundo.
Pelo final da história, calculo que esta tenha sido a última narrativa com Gued. Este salvou Terramar, mas para isso esgotou os seus poderes, perdendo o seu estatuto de feiticeiro. Foi uma personagem que adorei conhecer e que, sem dúvida, coloco ao lado de Harry Potter ou Frodo, tanto pela sua personalidade absolutamente incomparável e arrebatadora, como pelo seu simbolismo e importância.
Mais uma vez, uma série que recomendo vivamente!

A Praia mais Longínqua de Ursula K. Le Guin

 

Boas Leituras!!!

Publicado por Fábio J. às 23:17

Junho 20 2007
E amanhã é mesmo o último dia! Não estou lá muito entusiasmado; estes últimos dias não têm sido fáceis, mas espero estar feliz e contente, amanhã...
A leitura tem sido, claramente, um momento de descontracção e paz. Deixo de ser quem sou, esqueço a minha vida e os meus problemas e encarno uma personagem. Afinal, viver os problemas duma personagem, fictícios, é mais fácil do que viver os nossos, reais. E para além disso, sabe bem saborear as fantásticas palavras de Le Guin, perdendo-me na sua história e no seu mundo, o incrível Terramar. É um alívio...
A maioria das pessoas precisa de algo em que possa apoiar a sua vida, o seu percurso. Há quem não consiga viver sem o seu exercício físico de manhã, ou a sua música no autocarro, ou o seu café depois do almoço, ou o seu banho ao fim do dia... Eu não consigo viver sem aquele momento ao final do dia, no qual ponho a minha vida de parte e ganho uma nova alma, o momento em que leio.
Para tornar momentos como estes ainda melhores, criam-se livro ainda melhores. Funcionais, baratos, acessíveis, modernos, legíveis em qualquer lugar – no metro ou no autocarro –, lettering moderno, corpo da letra maior, lombada flexível. Estas são algumas das características dos novos livros de bolso lançados pela Dom Quixote, integrados na colecção Booket. A ideia é combinar preço, formato e acessibilidade, de forma a tornar o livro um objecto mais próximo dos portugueses, tornando o momento de leitura acessível a todos. Esta colecção aposta em reedições de autores portugueses e internacionais, para que agora a leitura de grandes obras possa ser feita por todos, em qualquer lugar.
Com a mesma intenção juntaram-se a Assírio & Alvim, a Cotovia e a editora Relógio d'Água, criando a Biblioteca Editores Independentes, uma aposta na edição de grandes clássicos a pequenos preços, sob a forma de livros de bolso. Tentando contrariar o insucesso que normalmente este tipo de lançamentos tem em Portugal, as três editoras juntaram-se para trazer até aos portugueses grandes obras, duma forma acessível a todos, tal como no caso anterior.
O livro de bolso nunca foi visto com bons olhos em Portugal. Tentando contrariar a ideia que estes são de pior qualidade física, e mesmo de conteúdo, estas editoras apostaram, recentemente, no nosso mercado e esperam que o livro de bolso, aquele pequeno objecto de levamos na mala, ou na mão, junto com as revistas, ajude a aumentar os níveis de literacia e leitura em Portugal.
Tiraram os livros das prateleiras... resta saber se os levam até aos leitores. Não deixa de ser um iniciativa que busca o lucro, por parte das editoras, mas é sem dúvida uma iniciativa bastante louvável e que merece o apoio de qualquer um de nós.
Bem, de seguida irei para zénite do meu dia: a leitura. Sei que o post não foi grande coisa, mas a ideia foi transmitida e espero que leiam!
Por isso mesmo, Boas Leituras!!!
Publicado por Fábio J. às 22:48

Junho 17 2007
Gostava de poder começar este post com um grande “estou de férias!”, mas por enquanto esta frase terá de continuar pequena já que não estou ainda livre dos “encargos académicos”. Já faltou mais...
Já não escrevia desde sexta, e também desde sexta não lia um novo livro. Mas finalmente, no início do fim-de-semana, pude começar com A Praia mais Longínqua, o terceiro volume do soberbo Ciclo de Terramar de Ursula K. Le Guin. Os adjectivos para classificar a obra têm de ser bem escolhidos, tal como o são cada palavra que a fantástica Le Guin emprega nas profundas histórias.
Escreveria todo um post sobre a nova tarefa de Gued, desta vez acompanhado por Arren, mas ainda é cedo... Mas acreditem que estou apaixonado pela história.
Descobri hoje o site duma série literária lançada este ano em Portugal. CHERUB é o seu nome e é da autoria de Robert Muchamore, um ex-detective inglês que decidiu fazer da escrita um modo de vida. A série conta com dois livros publicados em português (o terceiro disponível a partir do dia 21), mas são já sete os na língua original, sendo que mais seis estão já planeados até 2010!
A Porto Editora não poupou na publicidade e acredito que a maioria de vós já tinha ouvido falar de O Recruta, O Traficante ou Segurança Máxima, respectivamente o 1º, 2º e 3º livros da série. A verdade é que um pouco por todo o mundo existem fás dedicados e a venda de camisolas oficiais (relacionadas com o ambiente da história) é um sucesso.
Para contextualizar, podemos afirmar que a CHERUB “é uma agência que pertence aos Serviços Secretos Britânicos. Os seus agentes têm entre dez e dezassete anos. Todos os querubins são órfãos recrutados de lares de acolhimento e treinados para trabalharem como agentes secretos. Vivem no campus da CHERUB, cujas instalações secretas se localizam num lugar escondido, algures numa região rural de Inglaterra.” Estas crianças são agentes profissionais, treinados para escapar ao radar dos adultos. Afinal, a “inocência” das crianças pode ser o melhor disfarce.
Digam o que quiserem, mas o enredo é interessantíssimo. Quem nunca desejou ser agente secreto? Eu já! Quando era pequeno passava muito tempo a fantasiar com isto... por isso mesmo a história diz-me muito.
Nestas histórias acompanhamos James Adams, um jovem com QI de 153 e brilhante a matemática que entra para a CHERUB. No primeiro livro é-nos narrada, tanto quanto sei, os cem dias de recruta da personagem, e pelo que li no primeiro capítulo não parece ter sido algo fácil. Os volumes seguintes centram-se em missões especiais com a mesma personagem.
As críticas internacionais dificilmente podiam ser melhores e ao que parece a frase Para efeitos oficiais, estas crianças não existem é já um conceito adorado por vários adolescentes.
Original e surpreendente, esta história promete continuar a fazer milhares de crianças e adolescentes sonhar com uma vida de acção e risco, na qual a luta contra terroristas e traficantes é contínua. Aqui as crianças são mais do que meninos e meninas: são espiões profissionais.
Quem já leu diga de sua justiça, quem ainda não o fez pode visitar o site português ou, para uma consulta mais pormenorizada, o CHERUB campus, em inglês.
Para aqueles que terão uma semana atarefada, com os exames, muito boa sorte! Afinal a nossa vida não é ficção e nós não somos espiões, logo há que concentrar nestas (importantes) coisas.

Logótipo da CHERUB (numa alusão aos cherubs - querubins (anjos))

Boa sorte e Boas semana!
Publicado por Fábio J. às 22:35

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