Já alguma vez foram julgados pelo que sofreram sem ser dada importância ao que fizeram, seja isso bom ou mau? Por algum instante, sentiram que existe um vazio dentro de vós maior do que aquilo que o vosso ser preenche? Em algum momento abdicaram de tudo o que o destino vos ofereceu para procurar liberdade?
Estas são algumas das questões que inquietam os três principais personagens da quarta obra do Ciclo de Terramar, Tehanu – O Nome da Estrela.
Quando acabei o livro anterior, julguei estar a despedir-me definitivamente das fantásticas personagens que havia encontrado até li, nesta série. Por esta razão, fiquei realmente contente quando li pela primeira vez a sinopse deste novo livro, já que não só Gued, o principal herói, continua a fazer parte do enredo, como Tenar e Arren reaparecem, trazendo à memória antigos cenários e aventuras. Contudo, este livro acrescenta muito de novo a este mundo.
Pela primeira vez, uma obra da série começa onde a anterior terminou. Quando Gued, em A Praia Mais Longínqua, cumpriu a sua missão, acabando por perder os seus poderes, partiu para a sua terra natal, afim de viver lá até que a morte viesse buscar o seu corpo. É aqui que esta história começa, mas com outras personagens.
Tenar, antiga sacerdotisa de Atuan, é agora uma viúva que vive a sua vida como qualquer outra mulher, como desejou. No entanto, a sua vida muda quando uma criança, violentada e maltratada pelos pais, é encontrada, meia morta e a arder, perto da aldeia. De imediato, Tenar toma responsabilidade sobre ela, e passa a chamar-lhe Therru, fogo na sua língua materna. Mas esta não é uma criança como as outras: desfigurada pelo fogo e traumatizada pelo tormento por que passou, a criança é ainda descriminada pelo que se sucedeu, pois “cada um tem culpa pelo que é”.
Vindo da praia mais longínqua montado num dragão, Gued encontra mulher e criança, e é então que a acção se desenvolve. Desta vez, a magia parece passar despercebida, com pouca importância, mas a verdade é que a magia vive dentro das personagens, fazendo parte delas, sendo ou não manifestada.
Embora não pareça ser o principal mote da história, nesta obra as raízes das trevas do livro anterior mostram poderem ser ainda maiores que o próprio tronco. Contudo, no final, quando o lado selvagem e o lado humano de Therru, a estranha menina, se fundem, todas as sombras se apagam sobre a luz do fogo que arde nela.
Therru revela-se mais uma personagem incrível, daquelas que nos maravilha e entristece, Tenar volta a deslumbrar e a prender o leitor, e Gued, que já não parece sábio e poderoso, mostra como a vida pode sempre recomeçar. No fundo, é mais uma grande obra de Ursula K. Le Guin, que volta a primar pela originalidade e beleza.
Ao fim duma página já sorria de contentamento ou nostalgia, não sei bem, pois afinal, em Terramar, todos os sentimentos se fundem como as gotas num grande mar. As emoções, são como ilhas selvagens...
Não vou arriscar se é desta que as personagens se despendem ou não, mas acredito, devido a uma simples frase, que Therru e restante personagem voltarão... felizmente!
Uma série recomendadíssima!
Tehanu – O Nome da Estrela de Ursula K. Le Guin
Até Breve e Boas Leituras!!!